Documentário “Alma Açoriana”, de Penna Filho, abriu atividades do GEC/CENETI na BU/UFSC. Fabiana Penna e Francisco do Vale Pereira foram os debatedores


O Grupo de Encontros Culturais-GEC, vinculado ao Centro dos Estudantes do NETI-CENETI, abriu suas atividades de segundo semestre na segunda-feira (05),  com o Documentário “Alma Açoriana”, do cineasta Penna Filho. Para debater o filme, o GEC reuniu dois convidados especiais: a cineasta Fabiana Penna, filha do produtor,  com vários curtas realizados, atualmente em processo de produção do seu primeiro longa metragem “Achados não procurados” e Francisco do Vale Pereira, Coordenador do Núcleo de Estudos Açorianos- NEA, da UFSC.



A volta do GEC às atividades de segundo semestre teve ares de confraternização.  Membros do Grupo aplaudiram a escolha do Documentário e debatedores convidados, reviveram tempos de infância nas imagens e relatos mostrados e foram presenteados com DVDs “Alma Açoriana” gentilmente oferecidos por Fabiana Penna e sorteados ao final do Encontro. As boas vindas ao Grupo partiram da Coordenadora Geral do GEC, Maria Aparecida Ferreira e da Equipe Técnica,  representada por Raquel Maia Liberato e Maria Graciella Baigorria.  

Alma Açoriana transita entre os gêneros documental e ficcional

O Documentário “Alma Açoriana”,  foi lançado em 2002  e tem como tema “Vestígios e Memoria da Cultura Açoriana na Ilha de Santa Catarina”. A direção e roteiro é do cineasta Penna Filho, que optou por descendentes dos primeiros colonizadores de Florianópolis para atuar como atores. No elenco estão Rosa Florindo (falecida há dois anos),  Carmen Fossari, Carina Scheibe, Édio Nunes, Ângelo Florindo, Marcelo Perna e Antonio Cunha. A música é de Márcio Pazin; a fotografia, de Rodolfo Ancona Lopes e a produção executiva, de Guido Zandonai.  Também compõem a ficha técnica Tiago Santos  e Maurício Muniz, montagem e Pedro MC, design.
No Documentário, em que são mostrados a Fortaleza da Barra, Lagoa da Conceição, Praia de Ingleses, Santo Antonio de Lisboa, Ribeirão da Ilha e Pantano do Sul, Penna Filho reúne características culturais ainda vivas que ajudam a compor a identidade do povo ilhéu, repassando historias, costumes, cantorias, pescarias e mesmo questões polêmicas como a da realização da Farra do Boi.

Fabiana define o pai como “humanista”

“Meu pai não era catarinense. Era capixaba. Mas, nos últimos 25 anos quando fundou a Penna Filho Produções, passou a ter a característica de descobrir personagens, verdadeiras pérolas escondidas. 
A justificativa dele para fazer este filme foi justamente essa: resgatar a vida açoriana através do jeito de falar, de ouvir, da expressão de pensamentos, nos seus mais diversos aspectos. O filme fala da colonização, da chegada dos imigrantes, da expansão do turismo que transformou os valores culturais,  da especulação imobiliária. Busca resgatar um pouco dessa cultura, onde os principais atores são as rendeiras e os pescadores”, disse a cineasta, ao falar do trabalho do Pai, falecido em 2015, em Florianópolis, aos 79 anos.
Entre as suas observações, citou dois momentos que considera interessantes no documentário: a farra do boi e o sertão do sambaqui.


Nesse contexto, Francisco do Vale Pereira, Coordenador do Núcleo de Estudos Açorianos da UFSC, fez a sua primeira consideração: “Antes havia bem mais espaços na Ilha, as pessoas produziam; com o crescimento, com o avanço da construção civil, as áreas abertas foram deixando de existir. Com isso, a farra do boi, o boi de vara, como também era chamada a brincadeira do boi no campo, deixou de existir. O filme traz uma situação real de impedimento da farra do boi, uma questão muito polêmica. Tem um pescador que fala “...parece que a minha alma está ali”, destacou Francisco, para relatar a importância desse tipo de atividade na vida dos antigos moradores da Ilha.




Universo Bruxólico despertou curiosidade

Os mitos e crenças herdados dos colonizadores açorianos, como a lenda do culto às bruxas, despertou curiosidades durante o debate. “Quando foi encenada a peça Carmen, sobre a lenda, meu pai convidou rendeiras e pescadores para assistirem”, comentou Fabiana, situando outros momentos importantes de tomadas de cena do Documentário, como a Pesca Artesanal, filmada na Barra da Lagoa e na Praia de Ingleses; as rendeiras, filmadas na Fortaleza da Barra e o Engenho de Farinha, em Santo Antonio de Lisboa.
Francisco também fez considerações sobre o universo bruxólico em que os açorianos colonizadores do Sul do Brasil foram inseridos . “Em 1673, só 500 pessoas tinham alma; eram católicos que pertenciam à Igreja. No contexto geral da sociedade, quem não se ajustava era bruxo”, observou, deixando como sugestão para os membros do GEC  o documentário “Ilha das Bruxas”, que define como “maravilhoso”.



Aspectos culturais refletem influência de indígenas e povos africanos

Outro aspecto observado foi a difusão da cultura açoriana para além do território catarinense. Fabiana contou que organizou uma mostra sobre a obra do pai e que essa mostra passou por várias localidades, muitas das quais nunca tiveram contato com a cultura açoriana. “Como é importante a gente pegar o que se vive aqui e expor lá fora; parece que isso é mais importante ainda. Chega a ser absurdo; é muito rico, muito bacana”, compartilhou.
O coordenador do Núcleo de Estudos Açorianos da UFSC, por sua vez, explicou o fluxo de açorianos pelo Brasil, lembrando que outros povos habitavam a Ilha de Santa Catarina, mais tarde Florianópolis, antes das chegadas das famílias açorianas.  
“Os homens açorianos chegavam para o trabalho, por isso esses aspectos culturais vão se pulverizando. Para Santa Catarina, vieram famílias açorianas completas; o ordenamento era de que as pessoas já viessem casadas, pois precisava-se de força de trabalho, de reprodução para povoar esse litoral”.
De acordo com Francisco, a cultura açoriana tem origem no Arquipélago dos Açores, mas os aspectos culturais da base açoriana em Santa Catarina também sofrem a influencia dos indígenas que já habitavam a Ilha e dos povos africanos.
“A renda de bilro é uma técnica milenar, que veio da Europa através dos açorianos e que está espalhada pelo Brasil afora; não foram os açorianos que a inventaram”, observou, para exemplificar a influência de outros povos na cultura local.

Linguajar tem influência de Portugal Continental

Outro aspecto abordado foi o linguajar. Conforme Francisco, “o linguajar manezinho”, característico da Ilha, bem como a forma de se expressar da comunidade de São Miguel, são muito regionais.  “O arquipélago dos Açores é composto de nove ilhas e cada uma tem uma expressão diferente. São sotaques que tem muito das expressões típicas açorianas. A comunidade de São Miguel, cuja tradição oral vem da lenda Rabo de Peixe, também tem uma forma muito própria de falar. Podemos dizer que esse linguajar tem origem nos povos açorianos, mas que também sofre influencia dos portugueses continentais”, observou o coordenador do NEA/UFSC.

Documentário é uma contribuição ao “patrimônio cultural imaterial”, disse Francisco

A exemplo de Fabiana, Francisco destaca a questão da identidade cultural trabalhada no Documentário rodado em 2001: “o filme trouxe as comunidades a dizerem sobre aquilo que vivem; aquilo que está na alma da pessoa; o seu jeito de viver, as suas relações, os medos que possuem”.
Observa que de um lado, está o trabalho do artista; do outro, sobressai a mensagem de contribuição ao “patrimônio cultural imaterial" no Brasil. Citou o caso das igrejas, por exemplo: “Temos igrejas antigas, mas o que se faziam nessas igrejas? As igrejas passam a ser referência por isso. Todos esses significados começam a ser discutidos a partir de 2000/2001, quando o patrimônio cultural imaterial passa a ser visto como um movimento de resistência à globalização.  É quando passamos a perceber o quanto somos diferentes e também passamos a valorizar a nossa identidade cultural”, enfatizou.
Fabiana, por sua vez, acrescentou considerações à essa fala. “O que o Francisco diz vem muito de encontro ao trabalho do meu pai. O grande interesse dele era exatamente esse: o patrimônio imaterial. Meu pai era humanista, amava a humanidade. O envolvimento dele com as questões sociais era muito forte. Em “Alma Açoriana” ele mostra e traz depoimentos de pessoas da nossa convivência, o que fez com que essas pessoas agissem naturalmente”, disse a cineasta, que também responde pela Pesquisa do filme.












Debatedores convidados receberam mimo da Coordenação Geral do GEC, entregue e produzido por Graciela Baigorria






Texto e fotos: Vanda Araújo

Outra matéria relacionada à presença de Fabiana Penna no GEC/CENETI, pode ser conferida no link a seguir:
http://integraneti.blogspot.com/2018/10/cine-debate-do-gec-marcou-pre-estreia.html




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