Cine Debate do GEC/CENETI marcou estréia do NETI na 17ª SEPEX


Esquerda para direita: Graciela Baigorria, Raquel Maia Liberato, Joziléia Schild e Fabiana Penna

O NETI fez sua estreia na SEPEX nessa quarta-feira (17),  
com o Cine Debate de tema “Aprendizado e Reflexão na Compreensão das Desigualdades”, inspirado no documentário “Fendó, Tributo a uma Guerreira”, do diretor Penna Filho. O evento teve como Mediadora a produtora e pesquisadora Fabiana Heilmann Penna, filha do diretor Penna Filho.


Fabiana Penna
Fabiana lembrou a trajetória pessoal e artística do pai e se emocionou ao apresentar “Fendó” e ao falar dele.
"Falar de meu pai me emociona muito. Ele se dedicou às causas sociais e não poderia ficar indiferente à causa indígena”, disse a produtora, fazendo a ligação entre o tema escolhido pelo GEC/NETI para o Cine Debate e o tema desse ano da SEPEX, “Ciência para redução das Desigualdades”.  


Joziléia Schild
Atuando como debatedora, Joziléia Daniza Jagso Inácio Schild, coordenadora  do Curso de Licenciatura Intercultural Indígena do Sul da Mata Atlântica da UFSC, praticamente deu uma aula de história.
A debatedora discorreu sobre fatos marcantes da história indígena desde que a colonização portuguesa se instalou no Brasil, sobre o processo de violência enfrentado pelos povos indígenas no final do século XIX e no século XX, sobre as tradições dos povos chimbangues e  alertou para a importância de nós, brasileiros, valorizarmos a nossa história, questionarmos sobre as nossas memórias.
“Movimentos como este, promovido aqui hoje, nos fazem compreender melhor os povos indígenas. Precisamos reconhecer as nossas histórias, o povo brasileiro. Os povos indígenas tem tudo para defender a nossa memória”, destacou.
Para acentuar a necessidade dessa compreensão, Joziléia fez uma relação histórica entre o Holocausto, genocídio de judeus e pessoas de outras etnias, engendrado pelo regime nazista na década de 1940 e a história de sofrimento vivida pelos povos indígenas no Brasil ao longo dos séculos.
“Falamos da morte de 4 milhões de pessoas no Holocausto mas não temos vergonha da nossa história. Por que isso? Na luta pelas terras kaingangues morreram muitas pessoas. No Brasil, mais de 4 milhões de indígenas foram dizimados ao longo dos anos”, pontuou a debatedora.
Jozileia foi a primeira estudante indígena do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal de Santa Catarina. Atualmente faz doutorado em Memória Social e Patrimônio Cultural na Universidade Federal de Pelotas.
O Cine Debate reuniu público expressivo. O NETI prestigiou o evento,  levando professores e alunos. A assistente social Ana Paula Balthazar, representou a coordenadora do NETI, Jordelina Schier, no evento.
Na abertura, a coordenadora geral do GEC, Maria Aparecida Ferreira, destacou as ações do Grupo desde a sua criação, em 2015. 
A coordenação da mesa debatedora ficou à cargo das Coordenadoras fílmicas Raquel Maia Liberato e Maria Graciela Baigorria.


O DOCUMENTÁRIO

O documentário "Fendó, Tributo a uma Guerreira", fala das lutas dos indígenas kaingang de Chapecó pela recuperação de suas terras e coloca em evidência a figura ímpar da Centenária Fendó, guerreira da Aldeia Toldo Chimbangue, falecida em março de 2014.
Durante o evento, Fabiana Penna presenteou o público com o texto abaixo, intitulado “Fendó: o Descanso de uma Guerreira”, escrito por seu pai, o diretor Penna Filho.



"Desde o dia 06 de março de 2014, já não está mais entre nós a senhora Ana da Luz do Nascimento, nome brasileiro da kaingang Fendó, marcante figura da Aldeia Toldo Chimbangue, de Chapecó, SC. Fendó foi testemunha viva e também personagem ativa, sempre presente em atos e vigílias em defesa dos direitos dos seus iguais. Sua memória precisa ser preservada para servir de exemplo como resistência à usurpação dos direitos de quem estava aqui antes do homem branco chegar. Do lado “branco”, vão ficar poucas imagens e recortes de pequenos jornais locais, graças ao empenho de algumas instituições que lutam pelos direitos e pela dignidade das minorias indefesas – minorias que, somadas, formam a maioria num país de tanta desigualdade social. Gostaria que o meu documentário videográfico Fendó – Tributo a Uma Guerreira, de 2000, também fizesse parte desse acervo. Mas a esperança maior da preservação da memória de Fendó está na tradição indígena de contar oralmente a história dos seus feitos, heróis e mártires, de pais para filhos. Por quê essa reverência por uma miúda, franzina, pobre e muito idosa índia? Pois foi ela quem despertou minha atenção na foto em que aparecia entre mulheres brancas numa publicação de 1999 do CIMI – Conselho Indigenista Missionário. Ela estava entre as homenageadas no Dia Internacional da Mulher, em Chapecó. Estava no fim do ano e eu queria conhecer Fendó. Queria saber porque aquele pequeno e maltratado ser humano, um vivíssimo retrato do abandono do país, mereceu a mesma homenagem das senhoras que estavam ao seu lado. Iluminada a partir do nome poético, Ana da Luz do Nascimento, Fendó revelou-se sábia. Mostrou-me que sabia tudo dos homens, principalmente dos brancos, os loucos por terras. Sabia tudo sobre sofrimento, a exemplo de todos os kaingang, a exemplo das inúmeras nações indígenas – celeremente a caminho da extinção. Sabia o que deveria ser feito para que o branco não violentasse pelo menos o meio-ambiente. Os mestres da preservação, os índios, sabiam como usufruir da natureza sem violentá-la. Por isso, foi com muita autoridade que, encarando a câmera, Fendó sentenciou: “O branco é um inço!” Apesar das imensas dificuldades para realizar o documentário e da pobreza de recursos, foi muito prazeroso conhecer Fendó e sua família, conhecer a sua história, a história dos kaingang no que eu chamo de velho oeste catarinense. Valeu a pena, porque como eternizou o poeta, a alma não era pequena".
Penna Filho









Texto e fotos: Vanda Araújo

Comentários

  1. realmente foi uma tarde cultural onde o aprendizado, a reflexão e a compreensão se deram de uma maneira apaixonante sobre o tema da luta indígena por suas terras e seus direitos a vagas na univerdidade. Sua cultura diferente mas nao menor ou menos importante. Saímos do cine debate certas de os indígenas são os verdadeiros donos da terra Brasil, porque eles desde sempre aqui estiveram e o povo brasileiro tem uma dívida com os indígenas. Saber que foram mortos no Brasil o mesmo numero de indígenas que de judeus no holocausto, é chocante. E não se fala sobre isso. verificamos que quase nada sabemos sobre as raízes do Brasil. Gratidão a Prof. Josileia e a Fabiana Penna por ter proporcionado esse aprendizado

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