CENETI inova e promove Encontro sobre Perdas e Luto com a especialista e Personal Organizer, Dulce Grein

 

O Centro de Estudantes do NETI-CENETI/UNAPI vem esbanjando criatividade na forma de atuar e de fortalecer vínculos com os estudantes. Numa investida maravilhosa, digna de elogios, a diretoria prepara um Encontro a ser realizado dia 15 de Maio próximo, no NETI/UNAPI, em que a proposta é conversar sobre Perdas e Luto, temas difíceis de lidar e presentes na vida de todos nós. O Encontro, a ser realizado em forma de Oficina, tem como convidada a Personal Organizer Dulce Grein, Especialista em Pós-Luto e Pós-Ruptura, a quem o Blog integraNETI tem a satisfação de conhecer um pouco mais, a partir da iniciativa inédita da presidente do CENETI, Beth Goidanich. Na qualidade de repórter-redatora, Beth traz uma entrevista encantadora em que ganham destaque a Dulce filha, Dulce mãe, Secretária executiva, Personal Organizer, Contadora de História - ela tem dezesseis anos de NETI - e que agora se lança na marcenaria inteligente. Uma entrevista gostosa de ler e que dá a dimensão do quanto será bom participar dessa Oficina. Interessados devem se apressar pois para participar é necessário fazer inscrição e as vagas são limitadas! Confira abaixo a íntegra da Entrevista em que Beth Goidanich arrasa nos dotes jornalísticos!

Por Beth Goidanich

No próximo dia 15 de maio, às 14h, o Centro de Estudantes do NETI-CENETI da Universidade Aberta para as Pessoas idosas NETI/UNAPI, promove uma conversa com Dulce Grein, Personal Organizer, especialista em Pós-luto e Pós-ruptura. Estudante do NETI-Unapi há dezesseis anos e Coordenadora do Grupo A Hora da História há doze, Dulce falou com o Blog integraNETI sobre suas motivações para frequentar o NETI-UNAPI e para a escolha da ocupação de Personal Organizer (P. O.), atividade ainda pouco compreendida pela maior parte das pessoas, e que, em alguma medida, dá continuidade à sua formação em Secretariado Executivo e à preparação que procurava quando ingressou no NETI. Nessa conversa, ela fala de sensibilidade e empatia no exercício da ocupação, destaca que organizar é deixar a vida leve e que a P. O. é, também, uma educadora.


Organizar é deixar a vida leve para nós e para os outros, diz Dulce Grein

Blog integraNETI – Para começar, a gente gostaria de saber há quanto tempo estás no NETI-UNAPI e como chegaste aqui.

Dulce – O NETI atende pessoas a partir dos 50 anos, né? Quando eu tinha quarenta e poucos, minha cunhada frequentava o NETI e eu tinha muita vontade de fazer cursos que me preparassem para o meu processo de envelhecimento e para o acompanhamento da minha mãe. Então, quando eu fiz cinquenta anos, em fevereiro, em março já estava no NETI. Como estou com sessenta e seis, faz dezesseis anos que estou aqui. Neste período, fiz vários cursos. Pautada nesses cursos, eu pude me preparar para o envelhecimento, ter este entendimento e chegar até a finitude da minha mãe com mais assertividade. Todos os cursos foram extremamente válidos na hora de dizer adeus pra minha mãe. Quando isso tudo passou, eu pensei: como vou continuar com esse trabalho? Eu gosto muito de pessoas idosas. Foi assim que comecei no grupo A Hora da História. Com esse grupo, a gente faz apresentações em escolas e instituições de longa permanência. A gente trabalha com pessoas idosas.

Blog integraNETIE como foi a decisão de virar Personal Organizer?

Depois que acabaram todas as situações com a minha mãe, terminou o inventário, eu era a inventariante, tudo sossegou e eu pensei sobre o que faria. É do meu jeito de ser mesmo a questão do voluntariado, mas eu sabia que precisaria ter uma contrapartida. Teria que ser profissional para ter recursos e fazer tudo o que eu queria fazer e eu sempre gostei dessa coisa da organização. Como formação, sou secretária executiva. Depois fiquei só de dona da casa, cuidando dos meus filhos, abri mão, conscientemente, da profissão e precisava me reencontrar. Fazendo terapia, pensei: por que não partir para a organização? Sempre fiz isso. Fui procurar o curso.

Personal Organizer não é uma profissão, pois não existe curso superior, então é uma ocupação. Temos uma associação, a ANPOP – Associação Nacional de Personal Organizer e Produtividade. Essa organização nos dá mais propriedade para realizar nosso trabalho, pois, como em todas as áreas, têm pessoas que vão lá e fazem um cursinho e começam a atuar, mas sem os cuidados, a discrição necessária. Porque é muito difícil pros clientes abrirem as portas das suas casas, que são seus redutos, onde está toda a sua história, para uma pessoa desconhecida. De repente a pessoa contratada sair dali, sem ser um profissional com ética e sair falando do acervo do cliente é perigoso. Então, realmente, é preciso muita discrição.

A ANPOP organiza vários cursos para as associadas. O primeiro curso que fiz que seria um subnicho da organização foi a “Baby organizer” e a “mom planner”. A organização e acompanhamento das mães desde que engravidam. Depois eu fui para outro subnicho, que é o que eu gosto de atuar: o pós-luto e pós-ruptura. Eu gosto deste ponto porque todos nós sofremos o tempo todo várias perdas. Como eu já sofri várias perdas, eu consigo entender o outro e consigo me entregar mais. No pós-luto, eu pude ver que ninguém se prepara definitivamente para aquela perda. No meu caso, por exemplo, minha mãe teve uma vida muito longeva e eu tive muitas oportunidades de estar com ela, mas também tive outras perdas. Tive dois abortos que foram muito sofridos. Então, posso me colocar no lugar de pessoas que perderam filhos. Então, tem todas essas coisas que acontecem no decorrer das nossas vidas e que eu consigo atuar de maneira mais sensível. Então esta é a área da organização que eu coloco como prioridade. Esse é o meu chamado. Além disso, estou me especializando também na marcenaria inteligente. Na marcenaria inteligente, a gente atua com arquitetos, designers de interior e marceneiros para que os móveis sejam planejados de acordo com as reais necessidades de organização do acervo dos clientes. A gente faz visitas técnicas e ajuda a desenhar os móveis.

Muita gente acha que ter uma Personal Organizer é frescura. Organizar não é frescura! Organizar te dá tempo para te ocupar das coisas que são realmente importantes: curtir a família, sair com amigos, sem estar preso. O objetivo maior de uma P. O. é isso: entender que casa perfeita não existe, entender a dinâmica das casas e oferecer um novo olhar para as atividades do dia a dia, ordenar a vida e, principalmente, mostrar aos clientes que organizar é deixar a vida leve. Eu mesma percebo alguns erros que cometi – não bem erros – mas eu tinha uma família com um viés machista. Com três filhos, meu marido achava que os meninos tinham que ajudar nas tarefas ditas de homens: lavar carro, cortar grama, aparar a cerca viva. Hoje eu vejo que eles aprenderam outras tarefas com a necessidade, porque eles têm de atuar como maridos, como donos de casa também, não deixar para as mulheres. Eu acredito que é meu papel, também, levar para as novas gerações esse olhar de que as funções têm de ser realmente divididas e não usar mais aquela frase: ah, meu marido me ajuda.


Blog integraNETI – Vamos falar um pouquinho mais sobre o Pós-luto e a Pós-ruptura, que são os temas do encontro do dia 15…

Dulce – Então, o que eu como Personal Organizer posso fazer no pós-luto? É ir lá, falar com a pessoa que está enlutada ou familiar. Normalmente não é a pessoa que está enlutada que me chama, mas a família e uma das questões mais específicas com a qual a gente tem que tomar cuidado é se está no tempo daquela pessoa enlutada. Porque o luto difere muito. Lógico, os especialistas falam das etapas, mas nem sempre é assim. Tem pessoas que pulam, tem pessoas que ficam numa etapa e não conseguem sair. Então, o trabalho da P. O. é ir lá e fazer a triagem do acervo da pessoa que partiu. Citando o caso da minha mãe, novamente: ela morava na sua casa e eu tinha cuidadoras, eu passava metade da semana dormindo lá, mas não morava com ela. Ela não queria morar com filhos. É bem complicado, porque eu tive que desmanchar uma casa toda e não um quarto. Como P. O., você faz a triagem do acervo, o que é para doação e o que vai ser doado para a família e eu gosto muito de respeitar o que era daquela pessoa e fazer um legado. Ou uma Caixa de recordações, fotos… É bem específico. Às vezes, a família enlutada não está dando importância para aquilo. As vezes querem mandar tudo para descarte. Mas eu vejo encontrarem, por exemplo, o caderno de receitas com a letra da pessoa falecida ou um caderno com amostrinhas de tricot. São coisas que, naquele momento, as pessoas não dão valor, mas depois de um tempo vão dar. Então, vem a sensibilidade da P. O. de saber que aquilo tem que ser guardado. Também acontece o contrário. Pessoas que querem guardar tudo. Também não é bom. Porque quando a gente trata de morte, só vale a pena você guardar quando olha aquilo ali e tem um sentimento bom. Se tu fores olhar um acervo e sentir tristeza, depressão, aquilo não deve ser guardado. Então, a gente faz essa triagem. A P. O. então faz toda essa parte: onde vai doar, para quem vai doar, se a família já tem instituições, se não tem a gente encaminha.

A Pós-ruptura, por exemplo, é o divórcio. Não só para a mulher. Às vezes o homem sai e está perdido, então a gente ajuda a tirar as coisas da residência, separar tudo, ajuda a montar o outro espaço. Geralmente, a esposa fica com a guarda dos filhos e tem que reestruturar todo o espaço para não ficarem aqueles buracos dentro do armário. Outro exemplo de pós-ruptura é quando os filhos saem de casa para estudar fora ou casar. A gente sabe que quando retornarem será só para visita. Então a P.O. ajuda a não deixar esses espaços desocupados – o que fazer com os quartos vazios? Um quarto de filho pode se transformar numa brinquedoteca para os netos. Tirar a sensação de vazio e colocar algo que dê prazer. O trabalho da P. O. é exatamente dar uma nova leitura e abrir os horizontes para um novo ciclo da vida.

Blog integraNETI – Isso mostra a importância dos objetos, né? As coisas não são só coisas…

Dulce – Não são só coisas. E é muito bom poder revisitar esses momentos. Não olhar a morte como algo mórbido. No nosso encontro, eu vou falar da ruptura e do luto, mas também vou tocar no assunto da morte. Pois precisamos desaprender que a morte, como nossa sociedade ocidental entende, é uma coisa horrível. Se é da natureza, porque não conseguimos entender como da natureza? Eu acredito que falar sobre isso ajuda a naturalizar. Ajuda, inclusive, a gente a se preparar e se organizar para a nossa propria finitude, entendendo que a organização tem reflexo nas nossas relações familiares. Como eu disse: organizar é deixar a vida leve para nós e para os outros.

Blog integraNETI – Você poderia nos dar um resumo do papel da Personal Organizer, então?

Dulce – Sim. A gente tem um papel educativo, também. Ao organizar um espaço, nós também ensinamos os clientes a criarem rotinas e a serem mais disciplinados. Costumamos dizer que cada coisa de uma casa tem a sua casinha. Aprender a manter as coisas em suas casinhas diminui o caos. Organizar ajuda a economizar, não só dinheiro, mas também tempo e disposição. Uma P. O. não vai para a casa das pessoas dobrar roupas, ela vai ensinar a viver com ordem e leveza.  

Fotos: Dulce Grein

(VA)

Comentários

  1. Pois é Leitores... infelizmente o recado de pressa nas inscrições chegou em cima da hora. A matéria sobre a Oficina foi veiculada dia 01 de Maio e já na manhã seguinte (dia 02), às 9h, o CENETI informava ao Blog que as inscrições estavam encerradas, com vagas esgotadas.
    Vanda Araújo - Editora

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  2. Ótima essa atividade
    Pena que só agora tomei conhecimento.

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    1. Oi, Ivonita! Acho que estavas doente quando divulgamos. Pena. Mas quem sabe fazemos outro no próximo semestre, né?

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