“Educação não é favor, é direito” defenderam palestrantes da Mesa Redonda “Tempo de Viver e Aprender”, promovida pelo NETI
Palestrantes da Mesa Redonda “Tempo de Viver e Aprender”, realizada pelo NETI na 17ª SEPEX foram unânimes na defesa do Direito à Educação de Jovens e Adultos e à discussão de ações educativas e políticas que promovam o acesso e a permanência da pessoa idosa na Universidade. “Infelizmente nosso país trata a terceira idade como um déficit econômico”, lamentou o Pró-reitor de Extensão da UFSC, Rogério Cid Bastos, presente à mesa de Abertura.
Entre os assuntos discutidos ganharam destaque a boa
oferta de cursos do IFSC, o desejo dos alunos do EJA, de criação de cursos de Graduação para egressos do Programa e o anúncio da elaboração de uma Política estudantil para o idoso da UFSC.
Participaram da Mesa Redonda Jordelina Schier, coordenadora do NETI e as professoras Sônia Lima de Carvalho, Deisi Cord, Elenita Eliete de Lima Ramos, Eliete Cibele Cipriano Vaz e a ex-aluna do CEJA, no NETI, Maria Moraes Andrade.
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Grupo Sambaneti, do CENET/NETI, abrilhantou evento |
Coordenadora do NETI destacou surgimento de um novo idoso
Na abertura dos trabalhos, a coordenadora do NETI, Jordelina Schier, chamou atenção para o que significa a Educação para a pessoa idosa na sociedade. “Independente da idade que se tem, é importante saber envelhecer. É importante pensar na Universidade, mas também em nossa própria vida”. A coordenadora destacou a importância do Instituto Federal de Santa Catarina-IFSC nesse processo, falou sobre o surgimento do novo idoso, que busca seu espaço na sociedade, e agradeceu a presença das professoras ali presentes, bem como a parceria da Prefeitura de Florianópolis nos programas EJA e CEJA, ofertados no NETI.
Diretora do Departamento do EJA foi taxativa: “EJA não se
trata de favor. É direito!”
A professora Sônia Santos Lima de Carvalho, diretora do Departamento de Educação de Jovens e Adultos da Secretaria Municipal de Educação, no ato representando o secretário de Educação, Maurício Fernandes Pereira, falou da importância da parceria com a Secretaria e destacou a política afirmativa da EJA, de apoio às pessoas que buscam aprendizado.
“A EJA exerce seu lugar de direito,
não se trata de nenhum favor enquanto estado. Na atual conjuntura, é muito
importante falar em direito. Precisamos segurar esse momento”, defendeu a
educadora. Sônia Carvalho agradeceu às professoras da EJA e CEJA ali
presentes e fez um agradecimento
especial aos alunos. “Se vocês não mostrassem que todos podem aprender e de
formas diferentes, não estaríamos aqui hoje”, disse a professora.
Rogério Bastos lamentou: “Terceira Idade é tratada como déficit econômico”
O pró-Reitor de Extensão da UFSC,
Rogério Cid Bastos, por
sua vez, fez uma breve retrospectiva de quando chegou
na UFSC, em 1978, lembrando que testemunhou a criação do Programa de Extensão
da UFSC, voltado à Terceira idade.
Rogério Bastos deu ênfase às
estatísticas sobre envelhecimento populacional e falou sobre a importância da
Universidade nesse processo. “Infelizmente nosso país trata a 3ª. idade como
déficit econômico, esquece que a pirâmide populacional está crescendo. Estima-se
que em 2030, a população com idade de 18 a 24 anos que deverá estar cursando a
Universidade seja igual à população de 60 a 70 anos, considerada idosa, o que
requer um tratamento específico”.
De acordo com o pró-reitor, a
Universidade Federal de Santa Catarina não somente é pioneira, como está atenta
à Educação da pessoa idosa. “A UFSC quer estar entre as três melhores
universidades do País nos próximos 4 anos e tem que estar preparada para
atender a esse segmento da população. Temos que ter um processo contínuo e
permanente de formação. Educação é qualidade de vida e temos que ter soluções
nossas em todas as etapas da vida do Brasileiro”, defendeu Rogério Bastos.
Deisi Cord revelou desejo de alunos do EJA: Graduação específica
para egressos do Programa
A professora Deisi Cordi, mestre e
doutora em Educação e que atua como professora de I Segmento da Educação de
Jovens e Adultos (Alfabetização) chamou atenção para o artigo 21 do Estatuto do
Idoso, que garante a criação pelo Poder Público de oportunidades de acesso do
idoso à educação, adequando currículos, metodologias e material didático aos
programas educacionais a ele destinados.
“O Estatuto do Idoso reconhece o envelhecimento da população e suas necessidades. Educação não é favor, é um direito do idoso. É isso que o NETI faz e que nós, do EJA, estamos aprendendo a fazer”, disse Deisi.
“O Estatuto do Idoso reconhece o envelhecimento da população e suas necessidades. Educação não é favor, é um direito do idoso. É isso que o NETI faz e que nós, do EJA, estamos aprendendo a fazer”, disse Deisi.
A professora apresentou o programa
EJA de Florianópolis para a pessoa idosa, composto de 9 núcleos, informando que
o NETI é o Núcleo de número 1, com duas turmas de I Segmento e duas turmas de
II Segmento. O primeiro segmento trabalha principalmente a escrita e leitura,
enquanto o segundo segmento trabalha o princípio educativo da Pesquisa. A
parceria EJA/NETI teve início em 2009 e nesses nove anos propiciou, inclusive,
a criação de uma turma de Ensino Médio, que se formou em 2017. “Agora, criou-se
um desejo de Graduação específica por parte dos egressos do EJA”, anunciou a
professora, arrancando aplausos da platéia.
Deisi falou dos motivos que levam os alunos ao
EJA e dos motivos que contribuem para o seu afastamento e também mostrou
trabalhos e projetos de aprendizagem feito pelos alunos. Com 24 locais de
atendimento em Florianópolis, o EJA contabiliza
1.606 estudantes, distribuídos em 53 turmas de I e II segmento.
“Os estudantes são protagonistas de
suas atividades. Estudar na UFSC faz diferença na autoestima”, disse a doutora
em Educação, para quem a oportunidade de inserção na Universidade permite
refletir sobre a educação para a pessoa idosa. “O idoso tem suas especificidades
e não podem ser negligenciadas”, defendeu, para citar Paulo Freire, educador,
pedagogo e filósofo brasileiro, falecido em 1997, criador do método inovador na
alfabetização de adultos, em que as palavras eram geradas a partir da realidade
dos alunos.
“Agora querem ignorar Paulo Freire. Ele
foi uma das pessoas mais bonitas que o Brasil já teve. É um posicionamento
político que a gente tem que trazer”, sustentou, arrancando mais aplausos do
público.

Elenita Ramos, do PROEJA/IFSC
destacou cursos como o
Certific e lamentou que poucos adultos chegam à
instituição
Já a professora Elenita Eliete de
Lima Ramos, mestre em Engenharia de Produção e doutora em Educação Científica e
Tecnológica, focou o Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com
a Educação Básica na Modalidade EJA- PROEJA, no IFSC –Instituto Federal de Estado
de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina. O tema de sua palestra foi
“Trabalho e bem viver”.
“Depois do governo Lula o IFSC
expandiu bastante”, começou dizendo Elenita. Lembrou que o IFSC é a antiga
escola técnica, que tem como objetivo promover a inclusão através da educação
profissional. Por Lei, o IFSC tem que reservar 10% das vagas para jovens e
adultos do PROEJA, observou.
A exemplo das professoras Deisi Cord e
Sônia Lima, Elenita
também foi incisiva na questão do direito à Educação. “O EJA é um direito, nós não fazemos nenhum favor. Os impostos que pagamos faz com que as pessoas tenham esse direito”, enfatizou, observando que embora o IFSC conte com número expressivo de alunos, poucos adultos chegam à instituição.
também foi incisiva na questão do direito à Educação. “O EJA é um direito, nós não fazemos nenhum favor. Os impostos que pagamos faz com que as pessoas tenham esse direito”, enfatizou, observando que embora o IFSC conte com número expressivo de alunos, poucos adultos chegam à instituição.
“Cabe a nós, professores, divulgar
isso na Grande Florianópolis, chamar atenção para a gama de cursos oferecidos
pelo PROEJA no IFSC”, destacou, citando entre esses cursos o de Cozinha,
Panificação e Confeitaria, Operações Básicas, Técnico em Suporte de Informática
e Certific- Cursos de Certificação Profissional por Competência, destinados a
quem tem experiência profissional numa determinada área mas ainda não possui diploma. Como exemplo, citou a
formação em Pescadores e em Camareiros. “Os pescadores vão para o mar, mas curiosamente
não sabem nadar”, observou. Explicou que no caso dos cursos Certific, que fazem
parte dos cursos EJA, do IFSC, o aluno comprova experiência profissional em uma
área específica e apenas complementa as disciplinas necessárias para obter a
certificação profissional.
Elenita chamou atenção para o elevado
índice de analfabetismo em Santa Catarina – 1,9 milhão de pessoas, segundo ela –
e encerrou sua apresentação com um vídeo mostrando o sentimento de uma aluna do IFSC, de nome Albertina.
“Ela aprendeu a ler aos 16 anos, foi
para o EJA, se alfabetizou e isso mudou sua vida. Ela se empoderou”, disse a
professora, observando que “quando se pensa no EJA tem que se lembrar que a
igualdade nem sempre é justa. É preciso dar condições diferenciadas de
aprendizagem”.
Eliete Vaz falou de Envelhecimento e anunciou criação de
uma Política estudantil para o idoso da UFSC
Mas foi na palestra da
professora da UFSC, Eliete Cibele Cipriano Vaz, de tema “O acesso de idosos e
idosas ao ensino superior”, que a Mesa Redonda entrou em intensa reflexão.
“Sempre é tempo de
recomeçar, de reaprender. Mas em que momento da vida a gente começa a aprender?
Alguns estudiosos dizem que a gente começa a aprender ainda na vida uterina. O
bebê ouve o som da própria mãe, de vários objetos e quando nasce reconhece os
sons que ouvia ainda em formação. É interessante relacionar isso com o
envelhecimento, é aí que o envelhecimento começa”, disse a professora, doutora
em Serviço Social.
Eliete Vaz destacou aspectos
positivos da velhice, falou do crescimento populacional – a estimativa é que em
2060, um em cada quatro brasileiros terão mais de 60 anos – da feminização da
velhice e chamou atenção para a questão da autonomia.
“O idoso precisa ter saúde
para viajar, cantar, dançar, mas também precisa ser tratado com dignidade,
autonomia. Só que para ter autonomia, é necessário que haja liberdade.
Liberdade para pensar, para decidir”, observou, lembrando que à medida em que
envelhecemos passamos a ter uma vida intelectual mais promissora.
Preparo da Universidade em questão
Ao falar dos aspectos positivos,
a doutora em Serviço Social lançou uma sequência de 12 perguntas que incluiu
desde as condições de vida de homens e mulheres idosos, à preparação do estado
para atender a esse segmento, necessidade de políticas públicas, condições para
os idosos que retornam ao trabalho,
esforços direcionados a profissionais que prestem atendimento aos idosos,
condições de acessibilidade e de mobilidade urbana e escolha do idoso por seu
lugar na sociedade, até chegar ao tema de sua palestra: O acesso dos idosos ao
ensino superior.
“As Universidades estão
preparadas para atender os idosos efetivamente? questionou, admitindo que “a
desigualdade em nossa sociedade é absurdamente gritante e envolve o esforço
coletivo de todos nós”.
Explicou que no caso da UFSC
já houve um despertar para essa questão. “Estamos envolvidos na elaboração de
uma política estudantil para o idoso da Universidade e há muito a considerar.
Os idosos estão realizando escolhas diversificadas, não mais se limitam a
programas específicos”, disse a professora, salientando que há muitas questões
a serem respondidas. Uma delas, antecipou, “é a de como está incluído na
Universidade o processo de viver e de envelhecer dos idosos”.
“É tempo de defender Direitos
e a Democracia”
Para Eliete Vaz, a redução das desigualdades
sociais e econômicas e a ampliação de políticas públicas se tornam
fundamentais.
“A educação não pode se
limitar a um passado da vida, deve estar presente ao longo da vida. À Universidade
cabe o acesso à pesquisa, ensino e extensão e a responsabilidade de acolher o
estudante idoso, eliminando preconceitos. É tempo de manifestar repúdio a todas
as formas de violência, de defender direitos e a Democracia. Vamos refletir
sobre isso e pensar em estratégias para defesa dos nossos direitos”,
recomendou.
Relato de ex-aluna do CEJA foi comovente
A Mesa Redonda também contou com o relato
de experiência da ex-aluna do CEJA no NETI, Maria Moraes Andrade, 77 anos
completos naquela tarde (18 de outubro), alfabetizada aos 62 anos. Maria se formou
no CEJA no final de 2017 e hoje é aluna das Oficinas A Arte da Saúde e Yoga para a Terceira idade,
no NETI.
O sonho de sua vida, relatou, é
publicar um livro com todos
os seus poemas – mais de 200 no total – projeto que
deve ganhar estímulo da Academia de Canto e Letras do CENETI-ACLC, da qual
também é membro. Simpática, fluente no relato de sua experiência de vida, a
catarinense natural de Criciúma contou que aos 62 anos encontrou uma família
maravilhosa: a EJA. Falou do marido José Andrade, da vida difícil ao seu lado
em Rondônia, dos quatro filhos que teve, da lida com a terra e da decisão de
estudar, depois dos 60 anos. “Troquei as flores pelo lápis”, contou, pedindo
licença ao final de sua apresentação para fazer outra coisa que adora: cantar. Maria encerrou seu relato cantando a “Música da Enxada”, de sua autoria.
Os trabalhos foram encerrados com debate coordenado pelo técnico em Assuntos Educacionais do NETI, Guilherme Koerich.

Os trabalhos foram encerrados com debate coordenado pelo técnico em Assuntos Educacionais do NETI, Guilherme Koerich.

Texto: Vanda Araújo
Foto: Cecília Alves de Lima
Dentre as muitas experiencias que já vivenciei no NETI, a mesa redonda "Tempo de viver é aprender" foi especialmente emocionante, reflexiva e instigante. A sensação de que ainda precisamos avançar é uma constante, entretanto, ouvir e sentir o depoimento da dona Maria Morais Andrade foi crucial para a consciência de que a educação permanente com pessoas idosas é um caminho necessário na atual sociedade!
ResponderExcluirGrata ao Blog IntegraNETI por registrar esse momento!