Roda de Conversa do SESC discutiu Política: "Não existe fórmula mágica para a escolha de candidatos. O eleitor é a chave mestra da mudança”, disse palestrante
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Palestrante Nelson Seiffert, ao centro, e Arlei Souza, coordenadora do Idoso em Foco. |
"Não há fórmula. Vivemos um momento constrangedor na política
do Brasil, com uma dificuldade enorme de enxergar lideranças. A sociedade não
está preparada para enfrentar essa força de mudança”, reconheceu.
Bem-humorado, às
vezes brincalhão nas suas colocações, Nelson Seiffert também soube
ser incisivo frente à necessidade do eleitorado de sair do que ele denomina de “Miopia
Geral”.
“Se você pega uma
laranja e só fica na casca, não vai saber que gosto tem o suco. O mesmo acontece com a participação política: o conhecimento está na base do exercício da cidadania. Uma sociedade baseada no
conhecimento passa a estar aberta a oportunidades para o uso eficiente de
recursos sociais, econômicos, ambientais e políticos. A disseminação do
conhecimento é o principal desafio para redefinir as relações entre as pessoas,
para introduzir novos padrões de exercício da cidadania e de conduta política. Se
não compreendermos o modelo da Organização Política Brasileira atual, onde é
feito o sistema político, e do qual nós somos responsáveis, temos papel
relevante, estaremos sempre pagando a conta”, disse o palestrante, lembrando
que a cidadania tem responsabilidade enorme nesse processo, uma vez que é quem
o financia.
Educação é instrumento básico para o exercício da cidadania
Educação é instrumento básico para o exercício da cidadania
Para Nelson Seiffert, dono de vasto curriculum em cursos de Formação
Política – nos últimos anos passou por três agremiações partidárias – “a
formação do exercício da cidadania é uma função clássica da Educação”. Ser Cidadão, na sua opinião, “é estar
capacitado para participar da vida da sociedade, para agir, para fiscalizar”.
“Educação e participação política são os pilares da Democracia.
A educação está na base, seja no indivíduo enquanto criança, adulto ou jovem; é
o instrumento básico para o exercício da cidadania. O exercício da cidadania, e
por consequência, da democracia, não ocorrerá sem esse requisito de acesso à cultura letrada e domínio do saber sistematizado, razão central do ensino e da participação política do cidadão. Somente uma
sociedade esclarecida é capaz de influir de forma consciente nos rumos da
gestão pública”, defendeu o palestrante, para retornar à metáfora da laranja:
“Se não nos voltarmos para a questão da Educação, não aprendermos a beber o suco, ficaremos
somente na casca. Temos que começar a trabalhar para mudar; quem não conhece,
deixa os outros fazerem”, sustentou.
Ausência de "massa crítica" causa preocupação
A importância da consciência política foi extremamente
martelada. Para Nelson Seiffert, o Brasil não está criando massa crítica,
capital humano. A desinformação no campo da Política, na sua opinião, tem
exercido, inclusive, influencia direta nos
baixos padrões de desenvolvimento do bem-estar da população.
“Por conta disso é que tem surgido espaço para políticos
insuficientemente capacitados para a gestão pública, políticos
mal-intencionados, corruptos, voltados para a maximização de seus interesses
privados à custa dos recursos públicos. Se não houver uma bagagem no cérebro das
pessoas, de forma a fazê-las entender o modelo de politica atual brasileiro,
como funcionam as estruturas, as pessoas sempre serão vitimizadas. Não
preparamos o cidadão para entender como funciona o Estado, quais são os seus
direitos civis e políticos. Através do voto, é que se pode mudar essas estruturas”,
enfatizou o diretor técnico-científico da ANG/SC, doutor em Engenharia de
Produção e especialista em Gestão Ambiental.
O papel do segmento sênior nesse contexto foi destaque na
Roda de Conversa. Num raciocínio conjunto com o palestrante, a Roda apurou que
se toda a população idosa for às urnas, na próxima eleição, o processo contará
com 16 milhões de votos, número que segundo Nelson Seiffert expressa “uma força
eleitoral fortíssima”.
“Com essa representatividade, é possível, inclusive, partir
para a sugestão de uma Lei de origem popular que estabeleça o “Recall”, a
cassação de mandatos e cargos de servidores públicos – presidente, governador,
prefeito, deputado, senador, juízes e procuradores – que estão agindo mal”,
observou o diretor técnico-científico da ANG/SC.
Como exemplo da força do
eleitorado e de iniciativa popular, citou o caso da Lei da Ficha Limpa, criada a
partir de um abaixo assinado que reuniu 1,5 milhão de assinaturas e que
torna inelegíveis condenados por órgãos colegiados da justiça.
A representatividade que pode brotar do segmento sênior, no
entanto, mereceu considerações por parte do palestrante. Nelson Seiffert chamou
atenção para o desconhecimento que os idosos ainda tem dos seus próprios
direitos, garantidos por Lei no Brasil.
“A maioria dos nossos idosos não
conhece o Estatuto do Idoso, lançado em 2003. A maioria das ´pessoas não quer
saber de envelhecimento porque acha que envelhecer resulta num futuro incerto e
às vezes, doloroso. Há um tabu de que o envelhecimento é algo distante, e
portanto não há porque se organizar para isso”, lamentou.
Envelhecimento do eleitorado elevou abstenção
O envelhecimento do eleitorado também foi contemplado na
Roda de Conversa. De acordo com o palestrante, a eleição de 2014 mostrou que a
taxa de abstenção foi a mais alta desde 1998, atribuída ao envelhecimento do
eleitorado. “Dados do Tribunal Superior Eleitoral apontam uma disparada da taxa
de ausência quando o comparecimento passa a ser facultativo a partir dos 70
anos”, observou.
Os dados também mostraram que
em 98, eleitores com idade superior a 70 anos correspondiam a 5,7%. Em janeiro
desse ano, esse índice foi atualizado para 8,2%. Na faixa de 60 a 79 anos, a taxa de abstenção atingiu 16%.
Já a participação feminina na Política demonstra
crescimento, mas ainda é baixa. O Brasil aparece na 152ª posição entre 190
países; dos 513 deputados federais, apenas 54 são mulheres.
“Temos que mudar a ideia de que as mulheres não se interessam por política. Precisamos conscientizar as pessoas para mudar esse quadro”, defendeu o especialista, lembrando que “no Congresso também não existem representantes eleitos para atuar no campo do suporte ao envelhecimento”.
“Temos que mudar a ideia de que as mulheres não se interessam por política. Precisamos conscientizar as pessoas para mudar esse quadro”, defendeu o especialista, lembrando que “no Congresso também não existem representantes eleitos para atuar no campo do suporte ao envelhecimento”.
As eleições de 2018 acontecerão em dois turnos - dias 07 e 28 de outubro. Além de presidente e governador, os eleitores escolherão deputado federal e deputado estadual. Devem votar brasileiros com idade de 18 a 69 anos. O voto é facultativo para quem tem 16 e 17 anos e para quem tem mais de 70 anos.
Nelson Seiffert defendeu urgência na implantação da Reforma
Política, proposta ao Congresso há mais de 15 anos; criticou o regime de “Feudos”
que caracteriza os 35 partidos políticos em vigência no País, “nossos partidos
são controlados por poucos Caciques, que são seus proprietários, também reconhecidos como Bercários de Raposas” e apresentou custos do modelo
político institucional, "o Congresso custou R$ 10 bilhões em 2018, dos quais R$
4,4 bilhões no Senado e R$ 6,1 bilhões na Câmara dos Deputados". Também fez duras críticas "à ineficiência do Judiciário: "a Justiça tem 79 milhões de
processos sem decisão, há que se propor uma reforma no Judiciário, bem como no
legislativo e executivo, um recall de servidores”, enfatizou, enquanto também defendeu a reforma
da Constituição Federal de 1988.
“Com a Constituição Federal de 1988 é impraticável governar.
É uma enciclopédia de mentiras e fantasias”, disse o palestrante. De acordo com Nelson
Seiffert, a Lei Superior, que em 1988
conferiu ao povo o poder supremo, perde em extensão apenas para a Índia.
A Roda de Conversa promovida pelo SESC Prainha, de
Florianópolis e a ANG/SC, dentro do Projeto Idoso em Foco, foi prestigiada por jovens e idosos com atividades no SESC e por
alunos e voluntários do Núcleo de Estudos da Terceira Idade-NETI/UFSC. A coordenação
esteve a cargo de Arlei Souza Borges, Técnica de Atividade em Trabalhos com
Grupos, na Unidade do Sesc Prainha, também coordenadora do Projeto Idoso em
Foco 2018, que este ano chega à sua 5ª Edição.
Texto: Vanda Araújo
Texto: Vanda Araújo
Fotos: Alexsandra Gallotti, Arlei Souza e Vanda Araújo
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