Psicólogo convidado pelo GEC/CENETI para discutir CORINGA falou de doenças neurológicas e sugeriu filme sobre Esquizofrenia
O Grupo de Encontros Culturais-GEC, proporcionou momentos especiais aos seus integrantes dia 02 de Março último, com a exibição e debate do filme “Coringa”, em sessão extra, no NETI. Para debater o filme, o GEC convidou o psicólogo Adriano Rozendo, que respondeu a dezenas de perguntas do Grupo. O especialista falou sobre o filme, avaliou o quadro psíquico do personagem que deu a Joaquin Phoenix o Oscar de Melhor Ator de 2020 e ao final sugeriu o filme sobre a Nise da Silveira, psiquiatra que revolucionou o tratamento da esquizofrenia.
Além do debate enriquecedor, o GEC foi presenteado com um DVD do Coringa, de capa autografada pelo psicólogo, o que torna ainda mais rico o seu acervo.
A Coordenadora Técnica do GEC, Raquel Maia
Liberato, relata e compartilha detalhes interessantes do Debate com os leitores
do Blog integraNETI. Abaixo, a íntegra do que ela escreveu.
Desequilíbrio psíquico
“O debate teve início com o psicólogo
Adriano Rozendo falando das várias vertentes que o filme proporciona para
debate, Lembrou que estamos falando de
um personagem e que em determinadas cenas nada é exatamente o que parece.
Adriano optou por falar sobre o
trabalho do Coringa, sendo Christophe Dejours, Doutor em Medicina, especialista
em medicina do trabalho, psiquiatra e psicanalista, considerado o pai da
psicodinâmica do trabalho.
Pesquisou por mais de 30 anos a
vida psíquica no trabalho, tendo como foco o sofrimento psíquico e as
estratégias de enfrentamento utilizadas pelos trabalhadores na superação e
transformação do trabalho em fonte de prazer.
Dejours escreveu vários livros
sobre o trabalho e as doenças mentais como
“Loucura do trabalho”, “ A
banalização da injustiça social”, e “Psicodinâmica do trabalho”, entre outros.
Adriano comentou que o trabalho
de palhaço de rua do Coringa, sem reconhecimento nem dos empregadores, que o
tratavam mal, nem da sociedade, é invisível aos olhos das pessoas. Essa falta
de reconhecimento e exploração causa um desequilíbrio psíquico, que quando a
pessoa tem uma família estruturada, que não é o caso do Coringa, algum apoio de
grupos, a pessoa consegue superar ou suportar essa situação no trabalho. Porém,
Coringa já vinha de sérios problemas familiares, sofreu violência na infância,
não conheceu o pai, vivia sem condições sociais adequadas, fazia tratamento
psiquiátrico tomando 7 remédios por dia, e em dado momento o governo cortou
esse atendimento e a doação da medicação, deixando-o sem possibilidade de
continuar o tratamento.
Arte como tratamento das doenças mentais
Ele tinha também uma doença
neurológica (síndrome pseudobulbar) que o fazia rir sem controle, em momentos
inapropriados. Ele tem essa síndrome desde criança. Esse riso só ocorria em
momentos de tensão, e de estresse. Embora de causa neurológica, a síndrome,
tinha um fator psíquico também.
Nestas condições, o seu quadro
psíquico era dos piores. Uma saída para o Coringa teria sido um investimento na
arte. Mas precisaria ter apoio de alguém ou de algum grupo que lhe desse
suporte. O que não acontecia com o Coringa que era praticamente sozinho no
mundo, só tinha uma mãe doente da qual cuidava.
Adriano falou da arte como meio
de tratamento das doenças mentais, por permitir que a pessoa jogue na arte
todas as pulsões seja negativa ou positiva, aliviando a tensão.
Invisibilidade dos excluídos pela
sociedade
Chamou, ainda, atenção sobre os
trabalhos que exigem pouca escolaridade e estão na base da pirâmide do
trabalho, como as que mais causam doenças psíquicas.
O debate contou com a participação
de todos os presentes, que estavam empolgados e levantaram outros aspectos, os
quais o psicólogo Adriano foi esclarecendo, como doenças mentais na família,
poucos investimentos públicos no acolhimento a esses doentes, a falta de
compreensão da sociedade quanto há doença mental, a doença mental no idoso e as
dificuldades inerentes a idade, a invisibilidade dos excluídos pela sociedade.
Frisou que em geral o
tratamento é farmacológico e psicoterápico. Nos casos mais leves somente uma
psicoterapia é capaz de ajudar esses pacientes.
O debate foi muito enriquecedor
e se não houvesse hora para o término havia se prolongado por mais tempo.
A experiência de assistir um
filme intenso e denso, como Coringa, com debate após o filme, com um
especialista foi muito válido e esclarecedor.
Tivemos como sugestão dos
presentes, que esse tipo de debate para filmes mais complexos acontecesse
outras vezes.
Adriano deixou como sugestão do
filme sobre a Nise da Silveira, psiquiatra que revolucionou o tratamento da esquizofrenia.
Ao final, nos ofereceu o DVD do Coringa, para fazer parte de nosso acervo e
autografou a capa.”
Raquel Maia Liberato
Que maravilha ouvir um debate sobre assunto tão importante quanto doenças mentais. Assisti Nise, um espetáculo de fime.
ResponderExcluirVale a pena ver.
Parabéns ao grupo do GEC e ao psicólogo Adriano Rosendo.
Esses debates são esclarecedores.