Acadêmica da ACLC/CENETI expõe ineditismo ao levar Poesia e Esperança a detentos da Penitenciária da Trindade, às vésperas do Natal
Lêda Fialho, ao centro, e demais colegas, num dos momentos da visita aos detentos |
O Blog integraNETI terminou 2019 com excelentes parceiros de conteúdo. Essa aproximação
permitiu mostrar o NETI nas suas mais diversas ações e atividades, na maior
parte das vezes na mesma velocidade com que as coisas aconteceram. Apesar dessa
preocupação com a agilidade na transmissão dos fatos, não foi possível noticiar
todos os eventos como gostaríamos. O NETI tem centenas de alunos, que por sua vez possuem atuação
muito diversificada.
Dois fatos relatados por parceiros nossos em Dezembro, no entanto, merecem resgate e admiração: o gesto da acadêmica Lêda Mônica Fialho, da Academia de Canto e Letras do Centro dos Estudantes do NETI-CENETI/ACLC, que com outros acadêmicos levou Poesia, ternura, carinho e esperança à detentos da Penitenciária da Trindade, em Florianópolis, e a Certificação de alunos do EJA- Programa Educação de Jovens e Adultos, que fazem aulas no NETI.
A experiência de Leda é contada aqui, enquanto a Certificação da turma do EJA, com a entrega do livro de Vida, está compartilhada na matéria seguinte, em relato trazido pela professora Maristela Sagás.
Dois fatos relatados por parceiros nossos em Dezembro, no entanto, merecem resgate e admiração: o gesto da acadêmica Lêda Mônica Fialho, da Academia de Canto e Letras do Centro dos Estudantes do NETI-CENETI/ACLC, que com outros acadêmicos levou Poesia, ternura, carinho e esperança à detentos da Penitenciária da Trindade, em Florianópolis, e a Certificação de alunos do EJA- Programa Educação de Jovens e Adultos, que fazem aulas no NETI.
A experiência de Leda é contada aqui, enquanto a Certificação da turma do EJA, com a entrega do livro de Vida, está compartilhada na matéria seguinte, em relato trazido pela professora Maristela Sagás.
Relato de visita à Penitenciária expõe amor e dor
Leda foi à Penitenciária dia 13 de Dezembro, acompanhada
das colegas Verônica, do SESC e de colegas da Associação dos Cronistas Poetas e Contistas Catarinenses-ACPCC. Lá, passaram o dia visitando e recitando Poemas de Natal,
de Fé e de Esperança para os encarcerados.
“É a primeira vez que faço esse tipo de trabalho. Disseram que é tenso, mas quis ir assim mesmo. Sabemos que nessa época fala-se muito em perdão, amor. Acho que deveria ser um trabalho mais frequente, não adianta alimentar sonhos, matar a fome por um dia. Mas esse tipo de atividade não depende só de mim, há um regulamento rigoroso para entrar lá”, escreveu a poetisa, em mensagem à editora do Blog, antes de sair para a visita. Ao final do dia, já em casa e definindo-se ainda abalada, mas grata, ela deu um depoimento lindo, que vale a pena compartilhar.
A experiência inusitada também levou nossa poetisa a escrever o poema de nome “Sem Asas para Voar”, que com sua permissão transcrevemos abaixo, na íntegra.
“É a primeira vez que faço esse tipo de trabalho. Disseram que é tenso, mas quis ir assim mesmo. Sabemos que nessa época fala-se muito em perdão, amor. Acho que deveria ser um trabalho mais frequente, não adianta alimentar sonhos, matar a fome por um dia. Mas esse tipo de atividade não depende só de mim, há um regulamento rigoroso para entrar lá”, escreveu a poetisa, em mensagem à editora do Blog, antes de sair para a visita. Ao final do dia, já em casa e definindo-se ainda abalada, mas grata, ela deu um depoimento lindo, que vale a pena compartilhar.
A experiência inusitada também levou nossa poetisa a escrever o poema de nome “Sem Asas para Voar”, que com sua permissão transcrevemos abaixo, na íntegra.
O Depoimento:
“Cheguei agora da Penitenciária.
Foi uma experiência
incrível, inesquecível, triste, de doer, de chorar.
Mas o bom é que eles gostaram de ouvir os poemas, pediram
as cópias e querem que a gente volte mais vezes.
Foram muito
respeitosos.
Um mundo que eu só
vi nos filmes e que retrata a realidade.
Só contando
pessoalmente: alguns revoltados,outros
tristes, cabeça baixa, outros cantaram
conosco e para alguns deixamos uma esperança.
Esse foi o meu
lindo presente de Natal.
Ganhei o ano, aprendi
que a liberdade é tudo e nunca desejaria a ninguém que fosse para esse lugar.
Chorei de tristeza,
chorei de emoção e sai de lá com a vontade de voltar e se pudesse dar um abraço
em todos.
Infelizmente
ficaram atrás das grades”.
Na sequência, o Poema "Sem Asas Para Voar" que Leda escreveu
sobre o que viu e sentiu na Penitenciária
Lêda Mônica Fialho
De repente me vi nos corredores
enormes, trancafiada nas grades que produziam um barulho ensurdecedor e faziam
com que meu corpo tremesse a cada abrir e fechar das celas.
Angústia e dor se apoderaram do meu
ser, do meu coração, da minha alma.
Um sofrimento intenso, indescritível,
tomou conta de mim e mudou o meu semblante, já não existia paz.
A luz tornou-se escuridão.
O que via era um mundo surreal e
inimaginável.
O brilho no olhar e sorriso no rosto
eram visto apenas em alguns, a maioria esta ali há tantos anos que não tinham
nenhuma esperança, só desalento, cabeça baixa, tinha perdido tudo.
Já não contavam os dias para alçar
voos, nada mais importava.
Fazer o quê?
Tinham penas a cumprir e deveriam
pagar pelo que fizeram.
Galerias e mais galerias cheias de
gente, a maioria jovens, rapazes fortes e bonitos.
Muitos dos reeducandos escreviam
lindos poemas.
Colocavam no papel todo sofrimento
experimentado, vivido, que falava de suas dores, saudades dos filhos, o sonho
de ser poeta, da liberdade perdida e da vontade de estudar, escrever um livro,
fazer poesias e sonhavam...
Sim, alguns ainda sonhavam.
Inacreditável.
Porões cheios
Celas, portas de aço
Pequenos cubículos
Homens cortando cabelos
Homens algemados
Exercitando nos pátios
Rezando para aliviar o sofrimento
Tomando sol
Varrendo o jardim
Deitados no chão
Andando em círculos
Alguns sem memória, sem razão
Homens com sonhos, livros na mão
Homens sem esperança
Homem velho
Homem criança
Oh Deus! Dá-lhes a esperança, o alento e o alívio para suas dores.
Oh Deus! Dá-lhes a esperança, o alento e o alívio para suas dores.
Perdoa-lhes pelos erros
cometidos e tire dos seus corações toda mágoa e rancor.
Dai-lhes uma nova oportunidade
Faz-lhes seres de luz e ampare-os na
escuridão
Abrace-os, estenda-lhes a mão.
Ah meu Deus! Quanta angústia
Quanto sofrimento!
Meu peito dói
Onde encontrar alento?
Sofro!
Não me sai da cabeça aquela imagem do
porão
Uma grade enorme por cima
E nem se pode estender a mão...
Como olhar seu semelhante como um ser
qualquer?
Mal se pode vê-los
Mal se sabe quem é
Em alguns havia uma luz
Parecia pedir fé.
Sorriam e às vezes cantavam.
Rezando pro Homem de Nazaré
Saí de lá alquebrada sem nada
entender.
Por que se privaram da liberdade?
Por que não pensaram antes de agir?
Em cada rosto ansioso por traz
daquelas grades
Olhavam pedindo socorro, olhavam sem
nada pedir
Só sei que me segurei. Mas as
lágrimas teimavam em cair.
E foi com imensa tristeza que me
retirei dali
Meu corpo inteiro doía, não suportava
a ilusão
De ver todos fora da prisão
Com a liberdade e o perdão
Voa! Voa meu irmão!
É o que desejo lhe falar
Procure sair desse mundo
Voe pra qualquer lugar!
Voa! Voa meu irmão!
Tenha força, fé e coragem
A vida te espera lá fora
Voa! Voa meu irmão
Antes que o desespero lhe devore!
13/12/2019
Texto Vanda Araújo
Fotos gentilmente cedidas por Lêda Fialho
Comentar o que??? Qualquer alusão a essa determinação que esse grupo assumiu só merece aplausos e orgulha a nossa Academia de Canto e Letras do Ceneti, consequentemente à UFSC
ResponderExcluirMuito orgulho mesmo.