FORUMNCTI 2019: ABRUNATI cobrou garantia de direito à Educação, prevista no Estatuto do Idoso e anunciou nova estrutura da Associação a partir de Novembro, em Seminário Internacional que relatou experiências da Argentina, Chile e Brasil com as UNATIs
Argentina, Chile e Brasil
traçaram um panorama atual das possibilidades e desafios da Educação para a
Terceira Idade
A
presidente da Associação Brasileira de Universidades Abertas a Terceira Idade-ABRUNATI, Rita de
Cássia da Silva Oliveira, também professora da Universidade Estadual de Ponta
Grossa-UEPG/PR, defendeu, em Aracaju, a implementação de Políticas Públicas específicas
“já” para atender a demanda educacional do idoso. Conforme a dirigente, o
Brasil conta hoje com mais de 180 Universidades Abertas da Terceira Idade-UNATIs
e todos os estados da federação possuem estrutura e currículos diferentes. “As
Universidades abertas da Terceira Idade tem sido disseminadas como um
estereótipo de empoderamento que instrumenta os idosos com conhecimentos.
Empoderar significa tornar os cidadãos críticos, possibilitar a transformação
cultural e a Educação exerce papel fundamental nessa mudança cultural”, sustentou.
Rita
de Cássia compôs a mesa de abertura do FórumNCTI 2019, no Ministério Público de
Sergipe e foi palestrante no IV Seminário Internacional da Associação
Brasileira de Universidades Abertas - ABRUNATI,
realizado na Universidade Federal de Sergipe-UFS, paralelo ao XVI Fórum
Nacional de Coordenadores de Projetos da Terceira Idade de Instituições de
Ensino Superior-IES e ao XV Encontro Nacional de Estudantes da Terceira Idade. O Seminário discutiu "Panorama das Universidades Abertas à Terceira Idade: diferentes experiências na América Latina" e também teve como palestrantes Cláudia Josefina Airas, da Argentina;
Macarena Roja, do Chile e Noêmia Lima Silva, da Universidade Federal de Sergipe
e coordenadora do FORUM NCTI 2019.
Professora
apontou possibilidades e desafios à Educação de Idosos no Brasil
Rita
lembrou que a garantia de políticas públicas se faz presente na Constituição
Federal de 1988, na Política Nacional do Idoso, de 1994 e no Estatuto do Idoso,
de 2003, mas que passados 16 anos os idosos continuam sem ver cumprido o
Capítulo V do Estatuto do Idoso, Artigos 20 a 25, da Educação, Esporte, Cultura
e Lazer. Na ótica da professora, se faz necessária uma estrutura educacional de
abordagem multidisciplinar que priorize a valorização social do idoso e que
possibilite ações educativas exclusivas para esse segmento, através de leis
específicas.
“Precisamos
de conteúdo em todos os níveis de ensino sobre envelhecimento. Essa é uma
reivindicação contida no Artigo 22, do Estatuto do Idoso, e que até hoje não
foi implementada”, lamentou.
Entre
as possibilidades na questão da
Educação, a professora apontou a
elaboração de metodologias e materiais, envolvimento de profissionais de diferentes
áreas na temática da educação do idoso e produção de materiais adequados à essa
faixa etária. “Não é qualquer pessoa que
pode trabalhar com o idoso; tem que ser profissional’, observou.
ABRUNATI terá nova estrutura a
partir de Novembro
Para a presidente da ABRUNATI, o avanço da população idosa no Brasil requer
ampliação dessas possibilidades e superação de desafios. No caso da Educação de
Idosos, apontou quatro desafios: fortalecimento
e ampliação das UNATIs, formação de profissionais em diversas áreas,
principalmente cuidadores de idosos e gerontólogos, na graduação e
pós-graduação; criação de Políticas Públicas específicas “já” para atender a
demanda educacional do idoso e fortalecimento e ampliação da ABRUNATI.
“Precisamos cada vez mais de
associados na ABRUNATI; é preciso fazer com que essa representação possa
aparecer mais no cenário nacional, buscando maior visibilidade e reconhecimento”,
defendeu a presidente. De acordo com Rita Oliveira, até meados de novembro será
divulgada a nova estrutura da ABRUNATI, inclusive com o lançamento de um site.
Nova imagem do idoso
A
palestrante fez um breve relato das atividades da UATI-UEPG, de Ponta Grossa e
traçou a “Nova Imagem do Idoso”. Segundo ela, “o idoso do século XXI é mais
ativo, mais participativo e conhecedor dos seus direitos. É um cidadão produtivo, integrado à sociedade
em que vive”.
A
UATI-UEPG foi criada em 1992, na Universidade Estadual de Ponta Grossa/PR. Conta
com 650 alunos e oferece atividades teóricas e práticas. Os cursos dão direito
a certificado e os alunos experimentam um processo interessante de integração através
do Grêmio da Universidade Aberta da Terceira Idade-GUATI, com programação que
abrange festas, tarde de talentos e viagens.
Argentina
apresentou experiências de uma prática positiva: Oficinas para idosos
A
palestrante da Argentina, Cláudia Josefina Airas, focou a Velhice nos dias
atuais, novos desafios e o desenvolvimento de práticas positivas. Entre
os desafios, citou o de gerar novas
propostas para um número crescente de idosos com interesses e motivações
diversas e que na maioria dos casos tem tempo livre e a busca de estratégias e
técnicas de intervenção que visem promover as capacidades, recursos e
potencialidades das pessoas.
“Com
frequência se faz necessário reformular as práticas trabalhadas com os idosos
porque eles estão em constante mudança. A velhice é a etapa mais longa da vida,
temos muito tempo livre e devemos saber como ocupar esse tempo”, ponderou
Claudia Airas .
A
Argentina começou a desenvolver práticas de psicologia positiva, a promover o
bem estar das pessoas, a partir dos anos 70. Hoje, o Grupo que mais se
beneficia com esse tipo de trabalho no país são os adultos maiores.
O
tipo de atividade que segundo a palestrante mais chama atenção dos estudantes da terceira idade são as atividades culturais, artes, idiomas e
ofícios. A maior parte dessas oficinas são gratuitas ou possuem taxas muito
baixas de adesão, mas não garantem nenhum título ou diploma. A exemplo das
UNATIs brasileiras, os estudantes argentinos também se organizam em centro de
estudantes.
“As Oficinas para idosos estabelecem vínculos
com professores, pesquisadores e extensionistas, relações horizontais entre
professores e alunos e fornecem bem estar integral tanto físico quanto
psicológico. As razões pelas quais os idosos participam desse tipo de atividade
geralmente incluem, de maneira combinada, interesses cognitivos, busca de
contatos sociais e geração de novos links de desenvolvimento. O envelhecimento
ativo passa por essas práticas positivas. Elas estimulam possibilidades de
mudanças, aprendizado, autoestima, fortalecimento e inserção social’, avaliou
Cláudia Airas, observando que como resultados práticos os alunos passaram a ir
menos ao médico, melhoraram a memória, diminuíram o uso de medicamentos e passaram
a consolidar novos vínculos, uma vez que nessa etapa se perdem os vínculos,
inclusive familiares. De acordo com a
palestrante, quase 1/3 dos idosos argentinos tem interesse em continuar
estudando e 10% realmente participam de uma atividade de educação.
No
Chile, das 50 Universidades, somente oito tem programas para a melhor idade
A
experiência chilena com educação de idosos foi compartilhada pela palestrante
da Pontifícia Universidade Católica-PUC do Chile, Macarena Roja, que começou
sua palestra mostrando imagens de uma estudante em que se lia: estudando 5 anos
e pagando 20 anos, para explicar a
reforma
educacional adotada pelo Chile no ano passado, que acabou parcialmente com a
cobrança de mensalidade nas universidades do pais. “Com todas as lutas dos
estudantes jovens conseguiu-se gratuidade de ensino somente para os muito
pobres. Os demais, obtém um crédito estudantil, um financiamento estatal de até
20 anos”, explicou a professora.
Macarena
abordou o crescimento da população idosa no Chile – de 1,3 milhão em 1990 para
3,5 milhões em 2019-, citou elementos sócio-políticos pertinentes a esse
crescimento e lembrou que o processo educacional de idosos na América Latina, como área
de intervenção social, é relativamente
novo, começou a ser instalado na maioria dos países a partir dos anos 80.
No
caso do Chile, os principais atores envolvidos na Educação de Idosos são as
Universidades, prefeituras, fundações e Organizações de Idosos. As primeiras
instituições universitárias a trabalhar com a Terceira Idade em território
chileno foram a Universidade Católica de Valparaíso e a Pontifícia Universidade
Católica-PUC. Atualmente estima-se que das
50 universidades chilenas, somente oito (08)
dispõem de Programas de Educação voltados à pessoa idosa.
"Apesar
dos esforços, a Educação de idosos no
Chile ainda é muito pouco trabalhada se comparada ao que é feito no Brasil, onde praticamente todas as
universidades tem programas para idosos e na Argentina”, reconheceu a
palestrante.
A
exemplo da ABRUNATI, que cobrou o cumprimento do Estatuto do Idoso, a
palestrante chilena também lamentou o que acontece no seu país. “A Constituição
do Chile e a Lei Geral de Educação reconhecem o direito dos idosos de
educar-se, mas na prática isso não está acontecendo”, admitiu Macarena Roja, numa referência também à Convenção Interamericana sobre a proteção
dos direitos humanos dos idosos concluída no âmbito da Organização dos Estados Americanos
(OEA), em 2015, especificamente os Artigos 20 e 21, que garantem direito à
Educação e Cultura. Enquanto falava, exibia na tela a frase “A revolução que
precisamos é a revolução da Educação”, numa alusão ao movimento estudantil chileno de grande protagonismo nos últimos 15 anos, em defesa do fim da educação
privada.
UFS
aprovou resolução que permitirá à terceira idade preencher 20% das vagas
ociosas
A
experiência brasileira na Educação de idosos, em particular no estado de
Sergipe, foi contada pela coordenadora Geral do FORUMNCTI 2019, Noêmia Lima
Silva, também coordenadora do Núcleo de Pesquisas e Ações da Terceira
Idade-NUPATI/UFS .
“Nosso
programa de Educação de Idosos começou a ser desenvolvido em 1988. Fomos
conhecer a experiência obtida em São Paulo, no Ceará e em Santa Catarina e a
partir disso fizemos adaptações de acordo com a nossa realidade”, contou a
professora, para quem o trabalho desenvolvido pelo NUPATI/UFS tem uma visão e
uma missão: reconhecer as pessoas idosas como portadoras de direitos sociais e
promover a pessoa idosa.
Noêmia
contou que no início, o estado de Sergipe não tinha pessoas preparadas para
trabalhar com a pessoa idosa e que em função disso a Universidade Federal
começou a promover cursos específicos, principalmente na área da Gerontologia. “Fizemos
parceria com a Pró-Reitoria de Graduação e com isso avançamos. Hoje, temos
idosos matriculados em atividades integradas dentro das salas de aula como
disciplinas isoladas. Cada vez mais o idoso de Sergipe está indo para a sala de
graduação”, observou, dizendo que “os idosos do estado já começam a cobrar que
também querem se graduar”.
De
acordo com a professora, os estudantes que frequentam a Graduação na UFS não
recebem diplomas, mas têem acesso a um histórico escolar que podem estar levando
para prestarem vestibular. Explicou que alguns
alunos estão concluindo a grade curricular, mas que não receberão diplomas
porque não fizeram vestibular. “Se esses alunos passarem no ENEM terão todas
essas disciplinas reconhecidas e podem avançar no curso que escolherem”.
Noêmia
Silva chamou atenção para o fato de que as Universidades brasileiras estão cada
vez mais se dando conta da importância da educação para os idosos, acentuou
pontos dos relatos feitos pelas palestrantes do Chile e Argentina – no Chile,
os alunos estão pagando cerca de 400 a 500 dólares por mês para estudar,
ponderou – e falou da luta travada na UFS a partir de 2015, em defesa do
ingresso dos idosos nos cursos de Graduação.
“Depois
de três anos de luta tivemos a aprovação da Resolução de número 06, que
determina que 20% das vagas ociosas na Universidade sejam direcionadas a
estudantes idosos”, relatou a coordenadora do NUPATI, uma das entidades
realizadoras do Fórum. De acordo com Noêmia, com a aprovação das Resoluções de número 06 e
de número 10, que chegam para regulamentar a Educação para a Terceira Idade na
Universidade Federal de Sergipe, os estudantes poderão usar o resultado do ENEM
para ocupar essas vagas ociosas.
O
FORUMNCTI 2019 foi realizado de 01 a 03 de outubro, na Universidade Federal de
Sergipe, em Aracaju pelo NUPATI, UFS-SE/50 Anos, ABRUNATI, Departamento de Serviço Social-DSS e CAM, com
apoio do Ministério Público de Sergipe, Prefeitura Municipal de Aracaju, SESC,
Instituto GBarbosa, Conselho Nacional dos Direitos do Idoso, Conselho Estadual
dos Direitos e Proteção do Idoso, Sociedade Brasileira de Geriatria e
Gerontologia-SBG, Espaço Ativo, Rotary Internacional, ADUFS, FASOUTO, AJALUX,
PROGRAD, PROEST, GEPSSO, CCSA e PROEX.
Fotos: Vanda Araújo
Adorei está matéria. Muito boa. Importante nos mantermos informados do que acontece no Brasil e em outros países em relação aos idosos e a rede de educação
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