Cria Cuervos, filme premiado do espanhol Carlos Saura, fechou atividades de Agosto do GEC/CENETI



O Grupo de Encontros Culturais – GEC, do Centro dos Estudantes do NETI-CENETI, encerrou sua programação de Agosto na segunda-feira (19), com o filme Cria Cuervos, do diretor espanhol Carlos Saura. A apresentadora e mediadora foi a Psicóloga Roneci Jacques, membro do GEC, com suporte da Coordenadora Técnica, Raquel Maia Liberato. A dupla fez considerações interessantes na abertura da sessão, com dados sobre o diretor e as circunstâncias em que o filme foi feito. Raquel Maia, por exemplo, chamou atenção para aspectos de linguagem e para as duas elipses – de conteúdo e de tempo- trabalhadas por Carlos Saura.
No total, 30 participantes prestigiaram o Encontro no Auditório Elke Hering, da BU/UFSC. O GEC volta a se encontrar dia 02 de Setembro, desta vez no Centro Sócio-Econômico-CSE, da UFSC, quando promove Cinedebate especial com a Socióloga, consultora em Gerontologia e ex-professora do NETI, Mônica Joesting Siedler.

Saura, hoje com 87 anos, filmou Cria Cuervos num período de censura cultural

Carlos Saura nasceu em1932, na Espanha. Considerado um dos maiores diretores do cinema Espanhol, sofreu influência do neo-realismo italiano de Luis Bunnel, com quem chegou a trabalhar. A partir dos anos 80, teve inicio a sua fase musical com a trilogia Bodas de Sangue, Carmen e Amor Bruxo. Depois, vieram outros filmes como Sevilhanas, Flamenco, Tango e Fados, entre os mais conhecidos. Durante a sua carreira, o cineasta recebeu diversos Ursos de Ouro e Prata. Com Cria Cuervos, de 1976, ganhou o festival de Cannes e outras premiações (confira abaixo). A música do filme também ganhou o mundo.
“No filme Cria Cuervos, Carlos Saura faz uso de metáforas e de diversos tipos de linguagem cinematográfica como montagem paralela, flashbacks, elipse de conteúdo (para evitar a repetição de cenas fortes) e elipse de tempo (quando o filme dá um salto no tempo, com o objetivo de ocultar ações sem importância para a narrativa)”, explicou a coordenadora técnica do GEC, Raquel Maia Liberato. Observou, também, que por ter sido filmado num período de censura cultural, Saura usou recursos técnicos e simbólicos como forma de apresentação dos conflitos.

Membros do GEC, durante o costumeiro Coffee break 








Mediadora focou aspectos do ponto de vista psicológico na infância

Cria Cuervos traz a história de Ana, interpretada de forma brilhante pela atriz Ana Torrent e de suas irmãs, filhas de Ana (Geraldine Chaplin) e do militar franquista Anselmo (Hector Alterio). Na fase adulta, Ana (Geraldine Chaplin) relembra a infância, aos nove anos, quando assiste a morte da mãe e num curto intervalo de tempo, a morte do pai. A partir daí, a menina imagina ter o poder sobre a vida e morte das pessoas, assumindo uma postura que encanta e ameaça. Cria Cuervos, portanto, torna-se um filme sobre amor e ódio, vida e morte, rompantes positivos e negativos que vão mostrando como funciona a mentalidade infantil e suas consequências face às convenções morais.

“O filme nos leva a várias leituras. Do ponto de vista psicológico, para a criança, o inconsciente representa o que ela vê como verdade. Temos traumas que se não forem trabalhados ficam para o resto da vida”, enfatizou a psicóloga Roneci Jacques, observando que “a história de vida de Ana era tão forte que na fase adulta ela não sabia distinguir o que realmente era realidade".
No filme, a psicologia de Ana está atrelada ao contexto social, o que para a crítica é o aspecto brilhante e relevante da obra. Aspectos como a Espanha da Era de Francisco Franco, a influência da igreja católica na vida das pessoas, a condição da mulher problematizada desde a infância ao envelhecimento, a falta de afeto e o autoritarismo impostos ao ambiente familiar predominaram no debate realizado pelo GEC.
Maria Graciela Baigorria, também membro da Coordenação Técnica, destacou a influência da ditadura no trabalho de Saura e de outros cineastas espanhóis. “Franco morreu em 75 e o filme foi feito em 76. Foram 40 anos de ditadura. Muitos filmes espanhóis trazem essa marca da família autoritária, do poder do franquismo”, colocou. Rafael Camortinga, por sua vez, trouxe a questão da força da Igreja Católica sobre as famílias, que a seu ver, apoiava de forma explícita o regime de Franco, colocação esta que mereceu contestação de alguns membros do Grupo. 



Um ponto de consenso foi o de que o filme expõe a falta de afeto entre as pessoas e que a música surge para acalmar, para compensar o clima de sofrimento vivido no ambiente familiar de Ana. Com a perda da inocência, a menina percebe a fragilidade da instituição família que antes lhe parecia perfeita. “O título do filme, Cria Cuervo, inclusive, faz referência a uma máxima espanhola: Crie corvos e eles lhe arrancarão os olhos”, destacou Raquel Liberato.
Segundo as apresentadoras, o filme Cria Cuervos, juntamente com Ana e os Lobos e Mamãe fez Cem Anos forma uma trilogia sobre as relações familiares, sob o regime de ditadura, pela coação e poder simbólico da moralidade católica e a hipocrisia, escondendo as mais variadas contravenções.


Membros do GEC, ao final do último Encontro de Agosto

Principais prêmios e indicações conquistados pelo filme
· Indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro (1976).
· Prêmio da Crítica Francesa (1976).
· London film Festival (1976).
· Festival de Karlovy Vary (1976).
· Prêmio da Crítica do Festival de Bruxelas (1977).
· Melhor filme, melhor diretor e melhor atriz (Geraldine
Chaplin) pela Associação de Cronistas de Espectáculos de 
de Nova York (1978).
· Festival de Nova Delhi (1981)



Texto: Vanda Araújo, com apoio da Coordenação Técnica do GEC
Fotos: Maria das Graças Ferreira, secretária do GEC e parceira do Blog integraNETI

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