Filme “Estrelas Além do Tempo”, exibido pelo GEC/CENETI, fez refletir sobre exclusão racial e de gênero no Brasil


O Grupo de Encontro Culturais-GEC/CENETI abriu a programação de Junho na segunda-feira (03), na Biblioteca Central da UFSC, com o filme “Estrelas Além do Tempo”, produção americana de 2017 que conta a história de três mulheres negras que trabalham na NASA e que se destacam como cientistas. Terminada a sessão, o debate foi intenso. O GEC contextualizou o Brasil na questão da exclusão racial, apresentou pesquisas do IBGE, Instituto Ethos e do BID para composição racial, social e de gênero e abriu espaço para reflexão ao citar uma lista de mulheres e homens negros que fazem parte da história e que foram minorados, silenciados e por vezes excluídos.



Apresentadora destacou aspectos do ponto de vista de crescimento pessoal

Ao apresentar o filme, Arlete Guarezi Zandomeneco destacou aspectos da ficha técnica e de conteúdo. “Estrelas Além do Tempo” é uma produção americana de 2017, do diretor Theodori Melfi e passa-se nos anos 60. Baseado em fatos reais,  o filme conta a história de três mulheres negras - Katherine Johnson, Dorothy Vaughan e Mary Jackson - que trabalham na NASA e se destacam como cientistas.
A segregação racial nos EUA, em 1961, e por consequência na NASA, é o ponto de largada do filme. Os negros trabalhavam em sala separada e os  banheiros também eram separados. No prédio onde funcionava o planejamento da corrida espacial não havia banheiro para negros, pois nenhum negro tinha chegado aquele setor e nem tinha qualificação.  Num ambiente basicamente masculino, as mulheres negras sofreram preconceitos de todos os lados,  de homens e de mulheres brancas e também de homens negros, que se sentiam superiores por serem homens. No entanto, a missão do governo dos EUA de enviar um homem ao espaço passa a depender diretamente do trabalho daquelas mulheres negras. Entra em cena a  questão da coletividade; vencer a corrida espacial não era apenas um sonho de todos, mas uma questão política que definiria os rumos da história do mundo.
“O filme nos proporciona refletir sobre esses aspectos e também sobre três questões do ponto de vista pessoal: a importância de encontrar o seu propósito; de não desistir no meio do caminho e de não se intimidar pelas mudanças e inovações: é preciso aprender com elas”, enfatizou Arlete.



Coordenadora Técnica do GEC deu suporte ao debate

O  material elaborado pelo GEC, que no debate ganhou suporte de Raquel Maia Liberto, coordenadora técnica do Grupo, teve forte repercussão entre os participantes. A equipe relatou que as três mulheres homenageadas no filme, ocultadas pela história, não eram conhecidas nem pelas atrizes negras do filme e trouxe depoimentos de atrizes e atores que ilustravam essa situação:  “Não conhecia essas mulheres incríveis e isso me incomodou; Achei que era ficção; Fiquei magoada, como eu sendo uma negra, isso foi escondido de mim; Nunca ouvimos falar de pessoas que foram importantes na corrida espacial até os anos 70”, mostraram os depoimentos.
A cronologia dos fatos também mereceu destaque: de acordo com a Equipe técnica do GEC, em 1922, a 1ª funcionaria mulher, Pearl Young foi contratada pela NACA (Comite Nacional de Aeronautica – criado em 1920); Em 1930, a NACA contratou as primeiras  mulheres computadores – só faziam cálculos e em 1943 o governo declarou contratar mulheres afro-americanas, no esforço de guerra, o que se tornaria o grande passo para a mudança.



Brasil no contexto da exclusão racial e de gênero esquentou discussão

Mas foi na contextualização do Brasil enquanto país onde ainda prevalece o preconceito racial, que o debate mais teve ênfase. A equipe técnica do GEC mostrou números que atestam a exclusão racial, fez menção ao crescimento de pessoas negras com nível superior que ainda não ocupam altos cargos – em 2015, o país tinha 12,8% de negros na universidade, percentual equivalente a  menos da metade de jovens brancos - e lamentou a ausência de visibilidade para a cultura afro-brasileira, embora o Brasil seja o país com a maior população negra fora do continente africano.  
“Não é por acaso que os Estudos apontam que infelizmente a exclusão racial é presente cotidianamente”, disse Raquel Liberato. Conforme ela, dados do Instituto Ethos e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) sobre composição racial, social e de gênero das 500 maiores empresas do Brasil, mostram que quanto mais se sobe na pirâmide dos cargos, menos representativa se torna a presença de pretos e pardos. “O próprio IBGE reconhece os afrodescendentes como 54% da população do país”, destacou a Coordenadora Técnica do GEG, para quem o filme se concentra em dois focos: preconceito racial e de gênero.

José Luiz Soares, canto direito da foto, ao alto, mão levantada, pedindo uso da palavra

Bernadete Cruz, na mesma fileira à esquerda, de blusão vermelho, fez inserções interessantes

Raquel Liberato,à esquerda, segunda fileira, papeis na mão, reuniu material histórico

O filme também levantou, entre outras questões, o posicionamento de membros do GEC frente a ações afirmativas, como o acesso à universidade através de cotas.  Sílvia Souza, Administradora pela ESAG, foi enfática: “se fossem brancas, as mulheres do filme também seriam discriminadas. No entanto, como eram negras, a discriminação foi maior ainda”, enfatizou, observando ser contrária ao acesso à universidade através de cotas. “Eu fiz universidade e não precisei de cotas”, ponderou.
Bernadete Cruz, Enfermeira, fez um relato interessante: “Tenho uma amiga que é professora em Universidade que diz que os melhores alunos vieram das cotas porque sabem que ali é uma oportunidade única”, observou.


Sílvia Souza posicionou-se sobre acesso à Universidade através de cotas

Ao final do debate, a equipe técnica do GEC apresentou ao Grupo uma lista com nomes de negros e negras que se destacaram na área científica e que fazem parte da nossa história, mas que não são do conhecimento público .
“Esse filme proporcionou conhecer um pouco dessas pessoas”, disse Raquel Maia Liberato, citando Antonieta de Barros- Professora, jornalista e deputada estadual, primeira deputada negra e mulher do país; Sueli Carneiro, única negra no curso de Graduação da USP, em 1970, também única negra doutora em Filosofia pela USP, considerada a mais importante pesquisadora do feminismo negro no Brasil; Enedina Alves, primeira Engenheira, com formação nos anos 30; Viviane dos Santos Barbosa, Engenheira Química e bioquímica pela Universidade Tecnológica na Holanda, Mestre em nanotecnologia e premiada na Finlandia; Sonia Guimarães, primeira negra Doutora em física pela Universidade de Manchester e há 24 anos integrante do corpo docente do ITA – Instituto de Tecnologia Aeronáutica; Simone Maia Evaristo, Bióloga e Citotecnologista da UFRJ, também Supervisora técnica do Instituto do Câncer – INCA e Katemari Rosa, Mestre em Filosofia e História das Ciências, Doutora em ciências pela Universidade Columbia em Nova Iorque e autora de “História dos Negros e Negras nas Ciências, Tecnologias e Engenharias no Brasil”, para citar algumas mulheres. Entre os homens foram citados Teodoro Sampaio, André Rebouças e Milton Santos.







Texto e fotos: Vanda Araújo
Colaboraram Arlete Guarezi e Raquel Liberato-GEC

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