Oficina checou o quanto Florianópolis é Cidade Amiga do Idoso


Professora Angela Alvarez, da UFSC, ao centro, com as alunas do Curso de Enfermagem que prepararam a Oficina
Alunos e voluntários do NETI passaram por um exercício interessante de reflexão na tarde dessa terça-feira (16), com a Oficina "Participação Popular e Cidade Amiga do Idoso” preparada por alunos do Curso de Enfermagem da UFSC dentro da Disciplina “Enfermagem Gerontogeriátrica”, ministrada pela professora Angela Maria Alvarez. Idealizada com base no “Guia Global Cidade Amiga do Idoso”, da Organização Mundial da Saúde-OMS, a Oficina em formato de “Escuta Sensível” questionou a eficácia das políticas públicas, como os idosos da capital catarinense estão sendo tratados e se as características de cidade amigável reunidas no Guia da OMS refletem a realidade,  num exercício que mensurou dificuldades, barreiras e obstáculos enfrentados  no dia-a-dia da capital,  sob os mais diversos aspectos. 
Os alunos trabalharam e ouviram considerações do público para pontos como participação social, promoção e divulgação das atividades oferecidas aos idosos, combate ao isolamento, respeito e inclusão social, relações familiares e intergeracionais,  conscientização social, inclusão econômica, opções de emprego e espaços abertos amigáveis aos idosos no que se refere a ambiente, moradias e transportes, entre outros aspectos específicos contidos no Guia da OMS.











A cada ponto abordado, o público ia fazendo suas considerações.  Urilda Soares Coutinho, por exemplo, deu um depoimento forte sobre uma situação recente, envolvendo o convite feito a idosos do NETI por ocasião do Carnaval de 2019. “Ao invés do camarote Vip, como foi prometido, o lugar reservado aos idosos para acompanhar o desfile não foi nada bom. O KIT lanche servido incluía banana verde, brigadeiro, mortadela e suco de laranja, nada recomendável para o nosso público. Isso, sem contar as filas para o banheiro, que eram quilométricas”, ponderou.
O ponto referente ao combate ao isolamento também ganhou destaque. Valda Valdemar de Andrade, voluntária do NETI, falou da importância de ter descoberto o Núcleo de Estudos da Terceira Idade, da importância dos Grupos de Convivência para a saúde do idoso e do quanto o acesso à Universidade, através do NETI, modificou a sua vida. “O idoso que se dedica a desenvolver algum tipo de atividade deixa de ir ao médico. O isolamento causa depressão e a depressão é uma doença”, enfatizou.
Em muitos dos pontos trabalhados, os idosos reconheceram Florianópolis como cidade amiga, mas admitiram que há muito por fazer. Pessoas de outras cidades, presentes à Oficina, e até mesmo uma aluna de Cabo Verde, na África, estabeleceram comparações entre os idosos daqui e os idosos de suas cidades. No que se refere à oferta de eventos, por exemplo, parcela significativa admitiu que existem boas opções em Florianópolis, mas que há dificuldades no que se refere à mobilidade, à disponibilidade de transporte público para os locais onde esses eventos acontecem. Na ótica dos participantes, para ser amiga do idoso, Florianópolis precisa de uma série de ajustes no que se refere a espaços abertos, como por exemplo, espaços verdes bem conservados e seguros, com abrigos adequados e calçadas niveladas, regulares e bem cuidadas.



“Tudo o que estamos discutindo aqui tem a ver com a participação social e com o empoderamento da pessoa idosa”, repetia com frequência a professora Angela Maria Alvarez, do Departamento de Enfermagem da UFSC e que já foi coordenadora do NETI. Segundo a professora, o objetivo da Oficina foi integrar, conscientizar o aluno da importância de conhecer os idosos.
“Não dá para formar alunos de Enfermagem sem que saibam o que é a pessoa idosa. Não dá para ficar somente com a ideia de uma situação horizontal, de idoso fragilizado e dependente. Fizemos esse trabalho para que nossos alunos entendam o que é a pessoa idosa na sua integralidade. Se eles enxergarem que os idosos tem potencialidades, vão enxergar isso também no idoso fragilizado, nos familiares desses idosos e resgatar juntos esses potenciais com o cuidado humanitário”, disse a professora Angela, para quem a Oficina atendeu todas as expectativas. As discussões travadas em sala foram gravadas e de acordo com a professora o produto dessa Oficina será elaborado pelo Grupo, com possibilidades de vir a ser apresentado em eventos acadêmicos ou até mesmo por ocasião da próxima SEPEX-Semana de Pesquisa, Ensino e Extensão da UFSC.
Maria Eduarda Ferreira Goulart, quase formanda – está na nona fase do Curso de  Enfermagem- falou em nome dos dez colegas que participaram da organização da Oficina, oito dos quais presentes ao encontro no NETI. “Os maiores usuários dos Centros de Saúde são os idosos. Por isso a professora sugeriu que trouxéssemos o Guia da OMS”, observou. Contou que o trabalho em Grupo envolveu três encontros. “No primeiro, fizemos a leitura do Guia Cidade Amiga do Idoso, disponível na internet. Depois, pensamos num “checklist” (uma espécie de questionário, de lista de verificações) para cada idoso, mas achamos que seria muito complicado. Aí surgiu a idéia da professora Angela, de nos reunirmos com os idosos do NETI para buscar essa conscientização, tomar conhecimento das leis, do Estatuto do Idoso”, contou Maria Eduarda. Lembra que no segundo encontro ocorreu a sub-divisão do Grupo por pontos trabalhados, mas que a parte mais difícil do trabalho foi pensar em como trazer o Guia da OMS para a Oficina, em como abrir a discussão com o público convidado”.
Ao final dos trabalhos, a professora deixou um recado especial aos alunos. “Peço desculpas se atropelei vocês, alguns alunos chegaram a ficar nervosos porque vinham se apresentar aqui, mas é um desafio mesmo. Sabia que seria uma experiência importante na vida de vocês”, disse Angela Alvarez, dirigindo-se ao Grupo.








Coordenadora do NETI falou da trajetória do Núcleo e traçou perfil dos alunos


Jordelina Schier, na abertura da Oficina
Jordelina Schier e Angela Alvarez, na condução dos trabalhos

A Oficina preparada pelas alunas do Curso de Enfermagem contou com a participação da Coordenadora do NETI, Jordelina Schier e lotou o auditório do NETI. Na abertura, a coordenadora contextualizou o NETI no âmbito da UFSC e da Universidade Aberta da Terceira Idade, falou do pioneirismo e da visão futurista do Núcleo, apresentou ações e projetos desenvolvidos ao longo desses 36 anos e traçou um perfil dos alunos que frequentam o Núcleo.  “Além de atender à comunidade, trabalhando com Ensino, Pesquisa, Produção e aplicação do conhecimento na área da Gerontologia, o NETI vem contribuindo para que a sociedade tenha esse olhar inovador sobre a questão do Envelhecimento”, disse Nina, como é carinhosamente chamada. 
“O NETI é uma ação universitária geradora e difusora de inovações sociais”, enfatizou, destacando que a Universidade atua como um equipamento educativo e social, que impacta na qualidade de vida, na ressignificação da velhice e na promoção de um envelhecimento saudável.  “Para Cachioni, a Universidade Aberta da Terceira Idade “é uma janela de oportunidades para aprender, ensinar, pesquisar e conviver”, disse a Coordenadora, numa referência à Meire Cachioni, doutora em Gerontologia, com estudos e publicações na área.



Maioria dos alunos do NETI tem 61 anos ou mais

Dados contidos na sua explanação mostraram que o NETI ofertou 668 vagas nesse primeiro semestre, distribuídas em 32 cursos e oficinas, além de 07 atividades extras. Da totalidade de alunos presentes, 50,43% estão chegando ao NETI pela primeira vez, enquanto 49,57% já frequentam o Núcleo. Do total de alunos, 74,18% são mulheres e 25,61%, homens. A maioria dos idosos que frequenta o NETI tem 61 anos ou mais (70,28%), com 29,57% distribuído entre pessoas com idade de 50 a 59 anos. “Nesse semestre, o aluno mais idoso do Núcleo tem 94 anos”, destacou a coordenadora. Os dados apresentados também mostram que 69% dos alunos do NETI possuem curso superior, enquanto 19% possuem ensino médio completo.
“O nosso referencial teórico está centrado na Gerontologia enquanto Ciência e nos quatro pilares da Educação Permanente: aprender a conhecer, a fazer, a conviver e a ser. Os principais conceitos que trabalhamos são a autonomia, a interdependência e a autorrealização”, disse Nina.

Oficina lotou auditório do NETI

A Oficina dessa terça-feira foi prestigiada por alunos do NETI,  membros do PICG e demais voluntários e convidados e lotou o auditório do NETI. Todos os presentes foram convidados a avaliar a experiência. A Coordenadora do NETI, Jordelina Schier, sintetizou suas impressões em duas palavras: "Integração e agradecimento". "O que aconteceu aqui hoje foi um exemplo de integração entre professor, alunos e idosos; uma troca bonita de experiências, de saberes e alegrias. Vamos sair daqui refletindo, isso borbulha, oxigena o nosso corpo", disse Nina.
Entre as presenças ganharam destaque a assistente social do NETI, Ana Paula Balthazar, o técnico em assuntos Educacionais, Guilherme Koerich, a presidente do Conselho Municipal do Idoso, Leny Baessa e alunos do Curso de Serviço Social da UFSC, com estágio no NETI.
Ao final dos trabalhos, o público foi presenteado com sessões de poesia e música, protagonizadas pelas voluntárias Osmarina Maria de Souza, poetisa e escritora, também presidente da Academia de Canto e Letras do CENETI-NETI e por Valda Valdemar de Andrade e Urilda Soares Coutinho.




Professora Angela e as senhoras Osmarina (centro) e Urilda


Leny Baessa, presidente do Conselho Municipal do Idoso



O Guia Global Cidade Amiga do Idoso, da Organização Mundial da Saúde-OMS - um livrinho de capa azul, de 66 páginas - foi lançado em 2008 e pode ser consultado neste link, na internet: https://www.who.int/ageing/GuiaAFCPortuguese.pdf
Florianópolis está entre as primeiras capitais do Brasil a receber o diploma da OMS, ao lado de Porto Alegre e de cidades como Veranópolis e Esteio (RS) e Pato Branco (PR).


Graduandas em Enfermagem da UFSC, idealizadoras da Oficina. Da esquerda para direita: Samanta Will, Suyan Sens, Elisa Foschi, Rivoneide Silva, Professora Angela Alvarez, Maria Eduarda, Norma Santos e Vanessa Silva



Vanda Araújo
Fotos: Vanda Araújo e Cecília Alves de Lima

Comentários

  1. Parabéns Vanda por esta reportagem na íntegra do evento. Parece até q estivemos presentes. Belo trabalho!!

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