GEC encerrou Março aplaudido após exibir “Revolução em Dagenham”, filme que conta a luta de mulheres operárias por igualdade salarial. Grupo volta a se reunir dia 08 de abril
O Grupo de Encontros Culturais-GEC/CENETI, encerrou a programação de Março, dia 25 último, no auditório Elke Hering, da Biblioteca da UFSC, com uma salva de palmas após exibir “Revolução em Dagenham”. O filme, rodado em 2010, é baseado numa história real e conta a greve deflagrada por operárias da fabrica da Ford de Dagenham/Londres, por igualdade salarial. A greve de Dagenham faz parte da história do movimento feminista, ocorrido na década de 60. Este foi o segundo filme do mês, escolhido a dedo pela Coordenação Técnica do Grupo, em Homenagem às Mulheres. O anterior, exibido em 11 de março, foi “A Dama Dourada”, história verídica de uma austríaca que após refugiar-se do Holocausto em Los Angeles recupera obras de arte da família confiscadas pelo Reich de Hitler. O GEC volta a se reunir dia 08 de abril, na BU/UFSC.
Coordenação Técnica se esmerou na apresentação do filme
Como
acontece em todas as sessões que promove, a Coordenadoria Técnica do GEC abre
os trabalhos apresentando histórico e aspectos que considera relevantes para
contextualizar e discutir o filme. Desta vez não foi diferente. O Grupo pesquisou
e resgatou momentos históricos do movimento feminista deflagrados nos anos 60,
o que contribuiu para um debate rico e altamente participativo. “Desta vez, o pessoal
nos surpreendeu”, admitia Raquel Maia Liberato e Maria Graciela Baigorria, da
Coordenação Técnica, que apresentaram e conduziram o debate sobre o filme.
Quase todos os 30 membros do Grupo presentes à sessão de 25 de março pediram
para fazer uso da palavra.
“Achei
muito feliz a abordagem dada ao filme, de não colocar o homem como inimigo”,
disse Sônia
Magalhães”, observando que o diretor coloca uma mulher letrada, graduada, como
esposa do diretor da Ford, mas que não tem coragem para comprar a briga das
operárias. Quem toma as rédeas para deflagrar o movimento grevista que termina
por paralisar toda a produção da fábrica é uma operária, dona de casa”,
observou.
Raquel
Maia destacou essa particularidade do filme: “foram retratados três protótipos
de mulher: a Rita, operária e dona de casa, que se torna liderança; a LISA, econômica
e socialmente privilegiada, mas submissa ao marido e a Bárbara, secretária de
Estado, que representa a mulher no espaço político-público”.
- O filme mostra, sobretudo, como uma mulher simples, uma dona de casa, vai tomando consciência da força que representa, do seu papel na sociedade e se converte em liderança política. Na luta por seus direitos, por equiparação salarial ela enfrenta o poder, a empresa em que trabalha, a Ford, o sindicato, o governo e a própria família. É um filme importante, as lutas sindicais fazem parte do movimento feminista”, disse Graciela Baigorria, que se destacou na riqueza de detalhes ao mediar o filme.
- O filme mostra, sobretudo, como uma mulher simples, uma dona de casa, vai tomando consciência da força que representa, do seu papel na sociedade e se converte em liderança política. Na luta por seus direitos, por equiparação salarial ela enfrenta o poder, a empresa em que trabalha, a Ford, o sindicato, o governo e a própria família. É um filme importante, as lutas sindicais fazem parte do movimento feminista”, disse Graciela Baigorria, que se destacou na riqueza de detalhes ao mediar o filme.
O material
trabalhado e apresentado ao Grupo pela Coordenação Técnica do GEC traz datas, fatos históricos, repercussão e a
influência do movimento para as mulheres trabalhadoras nas décadas seguintes à 1960, até hoje. Confira o material elaborado pelo Grupo, gentilmente concedido para compartilhar com os leitores do Blog.
REVOLUÇÃO EM DAGENHAM
-Filme do Reino Unido, de 2010
-Diretor: Nigel Cole (Garotas do
calendário)
-Baseado numa historia real: a
greve de 1968 ocorrida na fábrica da Ford, de Dagenham/Londres.
-Protagonizada por mulheres
operarias que lutavam por igualdade salarial.
-É o Norma Rae (1979) inglês.
-A Ford de Dagenham era a maior
fabrica de motores da Europa e a quarta do mundo: Nela, eram montados 3.000
carros por dia, com 55.000 operários homens e 187 operárias mulheres.
-A indústria automobilística era
o carro chefe do desenvolvimento capitalista na Europa.
EIXOS PARA O DEBATE
No filme ficam retratados 3
protótipos de mulher:
-Rita, operaria e dona de casa
que evolui tornando-se uma grande liderança, contestando os valores tradicionais e lutando pelo seus
direitos.
-Lisa, privilegiada econômica e socialmente, submissa ao marido, figura ideal do patriarcado, que fica em casa
cuidando do filho e marido.
-Barbara, Secretaria de Estado,
que representa a mulher no espaço politico-publico.
As operarias tomam consciência de
sua importância no processo produtivo e na sociedade e passam a se organizar
politicamente: a greve paralisa toda a produção da fabrica. Gradualmente, elas
vão rompendo com os valores tradicionais a respeito do papel social da
mulher: passiva, submissa, dependente, dona de casa e se tornam protagonistas
de sua historia. Elas enfrentam a empresa, o sindicato e o estado inglês.
Vemos no filme o agir dos
burocratas sindicais, negociando com a empresa às costas dos
trabalhadores.
A greve foi uma vitória: as
operárias conseguiram 92% do salario pago aos homens e em maio de 1970 a
Equiparação Salarial tornou-se lei. Logo após, os demais países passam a acolher
essa legislação.
A
Ford passou a migrar sua produção para países onde a legislação trabalhista é
mais fraca e pode garantir maior produtividade e maiores lucros: A partir da
década de 80 a empresa adota a descentralização produtiva. Agora, novamente em
crise, a empresa decidiu parar com a produção de toda a linha Fiesta e Focus,
por darem pouco lucro e vender menos, anunciando que só fabricará a Ford pick
up (diesel) e a Ecosport, por serem mais lucrativos. Essa, inclusive, é a razão
do fechamento da fabrica no ABC paulista, que está fechando suas portas, com
2.500 operários fora. A Ford ficará somente com a fábrica do Nordeste para
montagem dessas duas linhas.
Origem histórica do dia 08 de Março: Dia Internacional da Mulher
Muitas
pessoas consideram o dia 08 de março apenas uma data de homenagens ás mulheres,
mas, diferentemente de outros dias comemorativas, ela não foi criada pelo
comercio, e tem raízes históricas mais profundas e serias.
Hoje, a
data é cada vez mais lembrada como um dia para reivindicar igualdade de gênero
e com protestos ao redor do mundo, aproximando-a de sua origem na luta de
mulheres que trabalhavam em fabricas nos Estados Unidos e em alguns países de
Europa.
Cabe
relacioná-la ao incêndio ocorrido numa fabrica de Nova York em março de 1911,
quando cerca de 130 operarias morreram carbonizadas.
No
entanto, há registros anteriores a esse episódio que trazem referencias a
reivindicações de mulheres, como a grande passeata em fevereiro de 1909 em Nova
York, onde marcharam 15 mil mulheres nas ruas da cidade por melhores condições
de trabalho. Na época, as jornadas chegavam a 16h por dia, seis dias da semana,
e com frequência também aos domingos. Na Europa também crescia o movimento nas
fábricas.
O chamado
Dia Internacional da Mulher só foi oficializado em 1975, pela ONU, para lembrar
suas conquistas políticas e sociais. Esse dia tem importância histórica porque
levantou um problema que não foi resolvido até hoje: a desigualdade de gênero e
tudo o que ela implica como desigualdade salarial, violência contra as
mulheres, feminicidios e criminalização do aborto entre outras práticas
preocupantes. No Brasil, como no resto do mundo, a data é marcada por protestos
nas principais cidades do país, a cada ano mais numerosos.
Movimento Feminista
A greve de
Dagenham faz parte da historia do movimento feminista, ocorrida justamente na
década de 60 com a ascensão do movimento, após um refluxo nos anos 30 durante o
nazi-fascismo.
Simone de
Beauvoir escreveu, em 1949, O Segundo Sexo, uma voz isolada no período de
refluxo, denunciando as raízes culturais da desigualdade de gênero, analise
profunda que levou em conta a biologia, a história e os mitos e que serviu de
marco fundamental para nortear o movimento feminista dos anos 60.
O feminismo que surge
no calor das lutas sociais nesta década, não deixa de reivindicar a igualdade
de direitos civis, políticos e trabalhistas; vai além, passando a
questionar o papel social ocupado pela mulher na tradição e cultura patriarcal
e a predeterminação biológica e cultural que mantém a mulher num patamar de inferioridade
aos homens.
A pílula anticoncepcional,
lançada em 1960, rompe paradigmas no comportamento sexual: se passa do sexo
para fins reprodutivos dentro do matrimônio, ao sexo por prazer e fora das
relações matrimoniais.
Texto:Vanda Araújo,
com colaboração de Raquel Liberato e Graciela Baigorria
Fotos:Maria das Graças Ferreira
Fotos:Maria das Graças Ferreira
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