Aula Inaugural - Ivo Klug, 79 anos, aprovado no vestibular da UFSC, 50 anos após sua primeira graduação: “vou fazer Cinquenta anos em Cinco, como gostava de dizer Juscelino Kubitschek”

Ivo e esposa, Vera Regina, na recepção do Blog integraNETI, na Aula Inaugural
Ana Paula Balthazar, Assistente Social, à esquerda, e a Coordenadora Jordelina Schier, à direita, na recepção ao casal, no NETI


Quando chegar ao Campus Blumenau UFSC, no segundo semestre, Ivo Klug já terá se acostumado ao estrelato. Aprovado no vestibular de 2019 da UFSC Blumenau para Engenharia de Controle e Automação, um dos cursos mais concorridos nas Universidades brasileiras, Ivo tem atraído a mídia e instituições locais de ensino. A façanha de voltar à Universidade aos 80 anos tem feito dele um catalisador, um estímulo à animosidade,  fonte de inspiração e exemplo de vida. Mesmo sem querer – ele próprio admite que não esperava tanta repercussão – o calouro mais idoso da UFSC vem propiciando reflexões, contribuindo para uma nova leitura do saber envelhecer por parte de quem o ouve, para o isolamento de estigmas negativos que insistem em colocar os idosos como pessoas improdutivas, de baixa capacidade intelectual, como pessoas incapazes de ir atrás de seus próprios sonhos. 
Na Aula Inaugural do NETI, de quarta-feira, 27 de março, na Reitoria da UFSC, da qual participou como Convidado, Ivo deixou reflexões acerca dessa temática entre calouros e veteranos. “A gente não pode enfiar o futuro na gaveta. O futuro tem que ficar na frente da gente”, disse de forma simples e tranquila, enquanto respondia a uma série de curiosidades levantadas pela Coordenadora do NETI, Jordelina Schier e pelo Professor e Médico Geriatra, Dr. Vanir Cardoso. 


Abaixo, relatamos algumas questões abordadas na Aula Inaugural, que desta vez teve formato de entrevista.
- Coordenadora Jordelina ou Nina, como é carinhosamente chamada: Sr. Ivo, o senhor esperava que a sua atitude ganhasse tamanha repercussão? 
Ivo Klug –  Eu não esperava. Tudo isso me emociona e ao mesmo tempo me dá estímulo.
Nina (em tom de brincadeira...) -  Na verdade, os trotes já estão acontecendo. Exemplo disso é o nosso convite, para que o Sr. falasse na  Aula Inaugural...
Ivo Klug-   Quando passei para Engenharia Mecânica, em 1964, na Universidade Federal do Paraná, os colegas enchiam a gente de cachaça... hoje não tem mais isso...

Vanir Cardoso – Quais as suas expectativas com o Curso, com essa nova empreitada?
Ivo – Quando vi o Currículo do curso, disse para mim mesmo: preciso dessa atualização, ela é extremamente necessária para minha área de trabalho. Me deparo com a necessidade contínua do uso da eletrônica digital, coisa que não aprendi no curso que fiz, há 50 anos. Estava me sentindo como um peixe fora d’água. Quando a gente tem interesse, consegue, e eu preciso me atualizar.


Foto:Eduardo Amorim/Campus Blumenau UFSC
Nina – Como foi a sua trajetória até o Vestibular?
Ivo - É preciso ter vocação. A vocação é uma coisa que vem lá de dentro. Comigo isso foi muito simples, aconteceu trabalhando quando eu ainda era aprendiz de cervejeiro. Ali foi o despertar da vocação. Saí de lá para fazer Engenharia Mecânica e durante o curso, em Curitiba, já comecei a fazer estágio. As caldeiras eram automotizadas, havia necessidade de atualização em automoção. Depois fui trabalhar numa empresa de elevadores e fiquei atento aos cursos que iam aparecendo. No caso do Vestibular, me preparei estudando Física no Campus da UFSC, este foi o meu cursinho.

Nina – O que o senhor acha que vai acontecer durante a Graduação, quais são os seus projetos?
Ivo - Vou fazer Cinquenta Anos em Cinco, como gostava de dizer o presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira (1956 a 1960). A tecnologia existe e chega pronta para ser aplicada, você aprende. Me sinto preparado em Matemática, em Física e tenho certeza que vou conseguir, que vai dar certo. Não é difícil.

Nina – O senhor é um exemplo de pessoa que não parou no seu tempo, de um olhar curioso... Leonardo Boff falava sobre isso, ele dizia que o ânimo é o sopro da vida.

Vanir Cardoso – "Realmente...quando a gente se dedica a uma área de estudo, ganha experiência, não pode parar. Eu, particularmente, trabalho pelo prazer de trabalhar. Se parar, eu morro. Botar pijama e ficar vestido nele até às 10h da manhã é um risco muito grande. Acordou, tire o pijama, tire a camisola..."
Na sequência, a Coordenadora do NETI abriu espaço para que o público pudesse interagir com o Convidado. Heloísa Sierdsma, que até se aposentar, no semestre passado, trabalhava na secretaria do NETI, fez a primeira pergunta:
Sr. Ivo, acabei de me aposentar e isso tem gerado uma mudança radical na minha vida. Pergunto: como a família reagiu ao fato de que o senhor é o calouro mais idoso da UFSC? O que a família acha do seu ingresso na Universidade, como está vendo a sua vida universitária?
Ivo - Me chamaram de louco! Quem poderia responder é minha esposa, que também está aqui presente (disse apontando para a Dona Vera Regina, à sua frente), mas ela se nega a falar.(..sorrisos) . A verdade é que a gente não para, temos netos, um deles acabou de passar para Medicina.
Dona Vera Regina, até ali, calada, manifestou-se: O pessoal de casa está habituado. Ele nunca parou, sempre procurou fazer cursos. Eu fui professora até 5 anos atrás, mas decidi cuidar um pouco dos nossos netos... Ao que o Sr. Ivo acrescentou: “mas ela cuida muito bem do marido também. No mês que vem, faremos Bodas de Ouro.
Do outro lado da plateia, João Corrêa, integrante do Grupo de Canto Vozes da Ilha, pediu a palavra: Contou que depois que se aposentou passou a se dedicar a música, a aderir a novos projetos e que isso o tem levado a refletir sobre suas escolhas, sobre a vida. Ao final, questionou: 
- Ivo, existe vocação, dom e destino. Gostaria que você falasse sobre isso. Com naturalidade, Ivo respondeu: 
- "Vou falar de mim. Meu destino era ficar velho ao lado da minha esposa. Meu dom era amar esta mulher. A minha vocação veio de forma espontânea: larguei a cervejaria e fui para a Engenharia Mecânica. A automação, aos 79 anos, é o despertar de uma nova vocação. Lá na frente quero aprender sistemas de automação das usinas termoelétricas e mais adiante sistema de automação das câmaras frigoríficas".



Vanir Cardoso interferiu para lembrar que o indivíduo tem que ter boa resiliência e determinação. “Um homem só fica velho quando pára de sonhar”, fez questão de observar. 
Ivo, por sua vez, acrescentou: “A gente não pode enfiar o futuro na gaveta. Ele tem que ficar na frente da gente. Quero melhorar de vida em todos os aspectos. A tecnologia avança e eu vou me empenhar para produzir elevadores ainda mais seguros”, disse o Convidado.
Ivo Klug tem três filhos. Há 20 anos trabalha numa empresa de Blumenau que fabrica elevadores de passageiros, no cargo de Responsável Técnico. É ele quem assina as chamadas ARTS-Anotação de Responsabilidade Técnica, uma espécie de documento enviado ao CREA-SC atestando que os elevadores que saem da fábrica tem funcionamento garantido.
Perguntado pelo Blog se continuará na atividade, Ivo disse que sim. “A empresa já sabe que passei. Vou continuar trabalhando e estudando”.


Texto: Vanda Araújo
Fotografia: Cecília Alves de Lima, com colaboração do NETI

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