Envelhecimento: Seminário de Joinville discutiu Gestão das ILPIs e propôs um “Olhar Sensível” por parte dessas Instituições para com os idosos
Da esquerda para a direita: Luciano Bruggemann, Maristela Assumpção, Marília Felício Fragoso, Cristiane Gilgen, André Braga de Araújo e Florindo do Rio Neto |
Representantes de órgãos
fiscalizadores das Instituições de Longa Permanência-ILPIs em Joinville e no Estado
de Santa Catarina, palestrantes no V Seminário sobre Envelhecimento e
Institucionalização, realizado na sexta-feira, 30, na Univille, em Joinville, apontaram
desafios a serem vencidos pelas ILPIs e defenderam maior comprometimento da
Administração Pública com essas instituições, enquanto também chamaram atenção para
a necessidade de “um olhar sensível” por parte das ILPIs para com os
idosos.
“Envelhecer é um processo que envolve a diversidade,
“Envelhecer é um processo que envolve a diversidade,
individualidade e a variabilidade entre os
indivíduos. O processo adaptativo para o idoso institucionalizado deve priorizar
o viver e não o sobreviver. Nesse contexto, a ILPI surge como um espaço de
tratamento, de cuidado digno. É preciso evitar a ILPI como perpetuação do
espaço asilar”, defendeu a Profa. Dra. Karina Silveira de Almeida
Hammerschmidt, da Universidade Federal de Santa Catarina, palestrante da
Conferencia de Abertura, com o tema “Atualidades sobre o Processo de Institucionalização
de Idosos no Brasil”.
Entres os desafios a serem
vencidos nesse processo, a especialista apontou a necessidade de formulação de políticas públicas, a afirmação
das ILPIs como um espaço de Cuidado Digno ao idoso, a implantação por parte
dessas instituições de prontuários de Residentes, a partir de dados reais e
registrados, o monitoramento de eventos adversos (quedas, istrogenias) e
principalmente o preparo- Capacitação/Educação- dos Profissionais que atuam
junto a essas instituições. “Não basta capacitar. Tem que haver uma Técnica de
Sensibilização”, defendeu a professora da UFSC, também membro da Associação Brasileira
de Enfermagem.
Maria Joana Barni Zucco, da ANG/SC, à esquerda, coordenou palestra da Advogada Ariane de Campos |
Os aspectos destacados por
ela ganharam ênfase na palestra seguinte, da Advogada Ariane de
Campos Angioletti, da OAB/SC, de tema “Gestão e Aspectos Legais de Funcionamento
das Instituições de Longa Permanência para Idosos”. Ariane focou aspectos legais que
norteiam as atividades nas ILPIs – Constituição Federal, Artigo 230; Estatuto
do Idoso – Artigos 48, 49, 50 e 51; RDC Anvisa nº 283/2005 e Conselhos
Profissionais – e apontou uma lista com nove documentações obrigatórias por
parte dessas instituições, conforme determina o Estatuto do Idoso.
Também fez
um retrato da Gestão das ILPIs, em que apontou, entre outras carências,
ausência de regularização, falta de planejamento estratégico, problemas de
comunicação, baixo investimento em melhorias e capacitação, baixa ou nenhuma
inovação e pouca ou nenhuma interação social.
De acordo com a advogada, o
primeiro problema no que se refere à questão jurídica dessas casas geriátricas
está na ausência de regularização. “Primeiro,
a casa abre. Depois se regulariza”, enfatizou, chamando atenção, também,
para o regime ditatorial a que os idosos de ILPIs são submetidos. “São raras as
ILPIs que promovem a saída do idoso. Que crime o idoso cometeu para estar
preso? questionou, observando que “falta à Casa Geriátrica assumir a
responsabilidade de que não é uma penitenciária. Falta abrir a cabeça, abrir o
quadradinho diário”. Outra necessidade, detectada também pela palestrante
anterior, é a de profissionais qualificados para atuarem nessas instituições,
como por exemplo Contador, Advogado, Psicólogo, Assistente Social e Terapeuta
Ocupacional. “A Casa Geriátrica tem que oferecer Terapia Ocupacional, essa
atividade pode refletir na melhoria do dia-a-dia do idoso”, defendeu a
Advogada, para quem falta a visão da sociedade de que o envelhecimento é um
nicho de mercado. “Existem diversos meios de trabalhar com o idoso. O poder
público tem obrigações, mas essa obrigação é compartilhada”, sentenciou.
Andrea Gadiolli, à esquerda, coordenou Mesa Redonda sobre Aspectos Socioassistenciais, em que palestraram Julia Lehm, Sandra Coimbra e Vagner Oliveira |
Além dos Aspectos Jurídicos,
o Seminário promoveu duas Mesas-Redondas em que foram discutidos os Aspectos
Socioassistenciais e Aspectos Clínicos/Terapêuticos nas Instituições de Longa
Permanência para Idosos.
A Mesa-Redonda sobre Aspectos
Socioassistenciais abordou o Papel e a importância do Assistente Social na ILPI
e também deu ênfase às ações da Secretaria Municipal de Assistência Social de
Joinville junto à instituições locais.
Júlia Cristina Lehm,
assistente social (Ancianato Bethesda/Instituto da Oportunidade Social),
primeira a falar, lembrou que o papel do Assistente Social é fazer a
articulação entre o idoso e sua família. “O Assistente Social tem a missão de
promover a qualidade de vida do idoso; o seu acesso a programações culturais,
de lazer, de esporte e ocupacionais, internas e externas; fortalecer vínculos e
mediar e auxiliar na resolução de conflitos. É preciso entender que a ILPI não
é um asilo. Esse estereótipo tem que mudar”, defendeu, observando que a atuação
desse profissional junto às ILPIs está estabelecida na Constituição Federal e
no Estatuto do Idoso.
Já a profa. Dra. Sandra
Coimbra, diretora Estadual de Assistência Social-SST/SC, deu ênfase aos dois
níveis de proteção em que se dá a Assistência Social – Proteção Social Básica e
Proteção Social Especial – com destaque para o trabalho desenvolvido pelo CRAS
e SEPREDI e foi enfática quanto à importância de trabalhar na prevenção à
pessoa idosa. “É importante investir na proteção social básica. A ILPI tem a
responsabilidade de resgatar os vínculos familiares. O fortalecimento de
vínculos com a comunidade também é muito importante”, observou.
Vagner Ferreira de Oliveira,
secretário Municipal de Assistência Social de Joinville, por sua vez, admitiu a
necessidade de reflexão acerca das ILPIs, de uma auto-crítica enquanto
representante do poder público. “Enquanto poder público, município, estados,
estamos preparados para atender aos idosos nas suas mais diversas condições
econômicas e sociais? Temos uma população que poderá estar à margem da
sociedade se o poder público não olhar para essa temática”, admitiu. O palestrante
destacou a importância do Controle
Social nesse processo e também chamou atenção para as responsabilidades
inerentes às ILPIs.
“A sociedade Civil tem que
cobrar cada vez mais o poder público. Portanto, trago essa responsabilidade
para todos nós, que trabalhamos com os idosos. Que as ILPIS tenham essa
atividade não somente como um negócio, mas principalmente com um olhar
sensível”, destacou. Segundo o Secretário, Joinville vem buscado soluções
rápidas e encaminhamentos para os idosos, principalmente no que se refere à
questão preventiva. “Estamos buscando fortalecimento intersetorial. O número de
CRAS subiu de seis para nove e estamos buscando um trabalho conjunto entre as
Secretarias de Esporte, Sáude e Assistência Social, no sentido de rever a
pirâmide em Joinville, através da prevenção aos nossos idosos”, destacou.
A Mesa-Redonda foi
coordenada pela Assistente Social, Andrea Gadiolli Fidêncio Poscai (ANG/SC). No
espaço reservado ao Debate, a advogada Maria Joana Barni Zucco, que também atua
na ANG/SC, chamou atenção para a necessidade de propor mudanças no Artigo 4º,
Inciso III, da Política Nacional do Idoso, como forma de buscar novas
perspectivas para esse segmento da população, de criar mecanismos que possam
favorecer o surgimento de ILPIs e assim atender a demanda reprimida que existe
hoje.
A necessidade levantada pela advogada foi alvo
de observação já na abertura da Mesa-Redonda realizada à tarde, de tema
“Entidades Fiscalizadoras e a busca por ILPIs de Qualidade”, em que falaram
cinco palestrantes.
André Braga de Araújo,
promotor de Justiça, lembrou que como maior cidade do Estado, Joinville tem
população idosa expressiva e embora conte com 42 ILPIs, em várias entidades
existe fila de espera. Desse total, três instituições são custeadas pelo município,
informou.
“A idade avançada não é
muito bem tratada. As pessoas, de modo geral, acham que nunca vão ficar velhas.
Quando se trata de ILPI, a questão fica no segundo plano. A administração pública
também não trata esse assunto como primeira questão. Essas questões demandam
estudo, esforço conjunto. Infelizmente é uma questão que não está muito presente
na administração pública, apesar do Estatuto do Idoso defender isso”, disse o
Promotor. André Braga traçou um breve panorama das ILPIs de Joinville,
observando que algumas instituições estão muito bem, outras em situações
razoáveis, outras interditadas e que também existem algumas em processo de
regularização. Além dessas 42, o Município conta com instituições
clandestinas”, admitiu o promotor, para quem o trabalho feito pelo Ministério
Público em Joinville não visa fechar as instituições, mas sim adequá-las de
acordo com a lei.
As visitas às ILPIS em
Joinville são feitas sem agendamento prévio. Conforme o promotor, “o Ministério
Público chama a Vigilância Sanitária, reúne toda a equipe e parte para a visita.
Não costumo avisar”, observou, admitindo que quando chega na instituição
constata “que o seu papel assusta”. Os benefícios decorrentes dessas ações, no
entanto, já são contabilizados. “A situação em Joinville está melhorando, a
consciência está eclodindo de maneira mais expressiva e os atendimentos aos
idosos ficou melhor. Antes, as ILPIs não conheciam esse trabalho”, observou André Braga.
Já o papel dos Conselhos de
Direitos da Pessoa Idosa na Fiscalização das ILPIs foi destacado na palestra da
presidente do Conselho Estadual do Idoso de Santa Catarina, Marília Celina
Felício Fragoso, também presidente da ANG/Brasil. “Os Conselhos de Direitos dos
Idosos são responsáveis pela fiscalização das ILPIs em parceria com o
Ministério Público, a Vigilância Sanitária e outros órgãos. O trabalho em
conjunto é importante pois permite aos profissionais de cada área ver o que
precisa ser feito”, explicou a presidente do CEI/SC, observando que “os Conselhos têem competência para supervisionar e fiscalizar, mas não possuem poder de
polícia”.
Marília Felício explicou que
a fiscalização das ILPIs está entre as prioridades do Conselho Estadual, com
esse tema, inclusive, tendo feito parte dos dois cursos de Capacitação de
Conselheiros em Políticas voltadas à Pessoa Idosa, realizados recentemente em
Florianópolis.
A presidente destacou a
importância do entrosamento entre os órgãos fiscalizadores para o bom
funcionamento das ILPIS e disse que no Conselho, esse trabalho vem sendo
aperfeiçoado. “Estamos sugerindo aos Conselhos Municipais do Idoso que façam
reuniões e proponham uma agenda comum de fiscalização com elaboração de um protocolo único”,
observou.
A mesa redonda sobre as
Entidades fiscalizadoras também contou com a participação do Chefe da DIFEIS,
Florindo do Rio Neto (DIVS/SC), que falou sobre o Papel da Vigilância Sanitária
na Fiscalização das ILPIs ; da enfermeira Maristela Assumpção de Azevedo, do
Conselho Regional de Enfermagem-COREN/SC, que falou sobre o papel do COREN e do
Sargento Luciano Bruggemann, que focou o papel do Corpo de Bombeiros nas
fiscalizações.
Segundo Florindo do Rio
Neto, as ações da Vigilância Sanitária relacionadas às ILPIs são orientativas e
fiscalizatórias e ocorrem tanto por demandas como por denúncias. Entre os
principais pontos observados nas visitas estão infra-estrutura, recursos
humanos, habite-se, bombeiros e existência de banheiros coletivos.
De acordo com o chefe do
DIFEIS, a Vigilância Sanitária vem trabalhando em projetos para melhor atuar na
fiscalização, alguns dos quais já em fase de construção. “Estamos criando
alternativas para um sistema de respostas que permita entender determinadas
atividades das ILPIs que passam por problemas. Outra ideia é diminuir o serviço
manual, implantar um sistema que gere relatórios”, antecipou o dirigente. A
Vigilância Sanitária também estuda uma forma padrão de classificação para as
irregularidades detectadas. “Estamos criando ferramentas para tirar a subjetividade
das situações encontradas. Também passaremos a trabalhar com Georreferenciamento.
Esta é uma ferramenta em fase de construção e que deve entrar em prática já em
2019”, adiantou Florindo do Rio Neto.
O V Seminário sobre Envelhecimento e Institucionalização foi
uma realização da Associação Nacional de Gerontologia de Santa Catarina (ANG
SC), com apoio da Secretaria do Estado de Assistência Social, Trabalho e
Habitação; Secretaria Municipal de Assistência Social de Joinville; Federação
Catarinense de Municípios de Santa Catarina (FECAM); Escola de Gestão Pública
Municipal (EGEM); Conselho Regional de Enfermagem de Santa Catarina (COREN/SC).
Universidade da Região de Joinville (UNIVILLE); Liga Acadêmica de Geriatria e
Gerontologia do Curso de Medicina da UNIVILLE; Instituto Federal de Santa
Catarina (IFSC/Joinville) e Vigilância Sanitária de Santa Catarina (DIVS/SC). O
NETI teve participação expressiva no Seminário e foi representado pela
Assistente Social, Ana Paula Balthazar e pelo Técnico em Assuntos Educacionais,
Guilherme Koerich.
Texto e fotos: Vanda Araújo
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