Roda de Conversa do SESC discutiu Política: "Não existe fórmula mágica para a escolha de candidatos. O eleitor é a chave mestra da mudança”, disse palestrante

Palestrante Nelson Seiffert, ao centro, e Arlei Souza, coordenadora do Idoso em Foco. 
"Numa eleição, não existe fórmula mágica para a escolha de candidatos. O eleitor é a chave mestra da mudança". A afirmação é do Diretor Técnico-Científico da Associação Nacional de Gerontologia de Santa Catarina-ANG/SC, Nelson Seiffert, em resposta à pergunta lançada na Roda de Conversa de quarta-feira (05/09), no SESC Prainha, de Florianópolis, com o tema "O Voto na Garantia dos seus Direitos". Indagado sobre "Que conselhos daria aos eleitores idosos ali presentes,  na escolha de seus candidatos na eleição de 07 de outubro", o palestrante foi enfático: 
"Não há fórmula. Vivemos um momento constrangedor na política do Brasil, com uma dificuldade enorme de enxergar lideranças. A sociedade não está preparada para enfrentar essa força de mudança”, reconheceu.
Bem-humorado, às vezes brincalhão nas suas colocações, Nelson Seiffert também soube ser incisivo frente à necessidade do eleitorado de sair do que ele denomina de “Miopia Geral”.
“Se você pega uma laranja e só fica na casca, não vai saber que gosto tem o suco. O mesmo acontece com a participação política: o conhecimento está na base do exercício da cidadania. Uma sociedade baseada no conhecimento passa a estar aberta a oportunidades para o uso eficiente de recursos sociais, econômicos, ambientais e políticos. A disseminação do conhecimento é o principal desafio para redefinir as relações entre as pessoas, para introduzir novos padrões de exercício da cidadania e de conduta política. Se não compreendermos o modelo da Organização Política Brasileira atual, onde é feito o sistema político, e do qual nós somos responsáveis, temos papel relevante, estaremos sempre pagando a conta”, disse o palestrante, lembrando que a cidadania tem responsabilidade enorme nesse processo, uma vez que é quem o financia.


Educação é instrumento básico para o exercício da cidadania

Para Nelson Seiffert, dono de vasto curriculum em cursos de Formação Política – nos últimos anos passou por três agremiações partidárias – “a formação do exercício da cidadania é uma função clássica da Educação”.  Ser Cidadão, na sua opinião, “é estar capacitado para participar da vida da sociedade, para agir, para fiscalizar”.
“Educação e participação política são os pilares da Democracia. A educação está na base, seja no indivíduo enquanto criança, adulto ou jovem; é o instrumento básico para o exercício da cidadania. O exercício da cidadania, e por consequência, da democracia, não ocorrerá sem esse requisito de acesso à cultura letrada e domínio do saber sistematizado, razão central do ensino e da participação política do cidadão. Somente uma sociedade esclarecida é capaz de influir de forma consciente nos rumos da gestão pública”, defendeu o palestrante, para retornar à metáfora da laranja:
“Se não nos voltarmos para a questão da Educação,  não aprendermos a beber o suco, ficaremos somente na casca. Temos que começar a trabalhar para mudar; quem não conhece, deixa os outros fazerem”, sustentou.



Ausência de "massa crítica" causa preocupação

A importância da consciência política foi extremamente martelada. Para Nelson Seiffert, o Brasil não está criando massa crítica, capital humano. A desinformação no campo da Política, na sua opinião, tem exercido, inclusive, influencia direta nos baixos padrões de desenvolvimento do bem-estar da população.
“Por conta disso é que tem surgido espaço para políticos insuficientemente capacitados para a gestão pública, políticos mal-intencionados, corruptos, voltados para a maximização de seus interesses privados à custa dos recursos públicos. Se não houver uma bagagem no cérebro das pessoas, de forma a fazê-las entender o modelo de politica atual brasileiro, como funcionam as  estruturas,  as pessoas sempre serão vitimizadas. Não preparamos o cidadão para entender como funciona o Estado, quais são os seus direitos civis e políticos. Através do voto, é que se pode mudar essas estruturas”, enfatizou o diretor técnico-científico da ANG/SC, doutor em Engenharia de Produção e especialista em Gestão Ambiental.


Segmento sênior tem forte participação nesse processo

O papel do segmento sênior nesse contexto foi destaque na Roda de Conversa. Num raciocínio conjunto com o palestrante, a Roda apurou que se toda a população idosa for às urnas, na próxima eleição, o processo contará com 16 milhões de votos, número que segundo Nelson Seiffert expressa “uma força eleitoral fortíssima”.
“Com essa representatividade, é possível, inclusive, partir para a sugestão de uma Lei de origem popular que estabeleça o “Recall”, a cassação de mandatos e cargos de servidores públicos – presidente, governador, prefeito, deputado, senador, juízes e procuradores – que estão agindo mal”, observou o diretor técnico-científico da ANG/SC. 
Como exemplo da força do eleitorado e de iniciativa popular, citou o caso da Lei da Ficha Limpa, criada a partir de um abaixo assinado que reuniu 1,5 milhão de assinaturas  e que torna inelegíveis condenados por órgãos colegiados da justiça.  
A representatividade que pode brotar do segmento sênior, no entanto, mereceu considerações por parte do palestrante. Nelson Seiffert chamou atenção para o desconhecimento que os idosos ainda tem dos seus próprios direitos, garantidos por Lei no Brasil. 
“A maioria dos nossos idosos não conhece o Estatuto do Idoso, lançado em 2003. A maioria das ´pessoas não quer saber de envelhecimento porque acha que envelhecer resulta num futuro incerto e às vezes, doloroso. Há um tabu de que o envelhecimento é algo distante, e portanto não há porque se organizar para isso”, lamentou.



Envelhecimento do eleitorado elevou abstenção

O envelhecimento do eleitorado também foi contemplado na Roda de Conversa. De acordo com o palestrante, a eleição de 2014 mostrou que a taxa de abstenção foi a mais alta desde 1998, atribuída ao envelhecimento do eleitorado. “Dados do Tribunal Superior Eleitoral apontam uma disparada da taxa de ausência quando o comparecimento passa a ser facultativo a partir dos 70 anos”, observou.
Os dados também mostraram que em 98, eleitores com idade superior a 70 anos correspondiam a 5,7%. Em janeiro desse ano, esse índice foi atualizado para 8,2%. Na faixa de 60 a 79 anos, a taxa de abstenção atingiu 16%.
Já a participação feminina na Política demonstra crescimento, mas ainda é baixa. O Brasil aparece na 152ª posição entre 190 países; dos 513 deputados federais, apenas 54 são mulheres. 
“Temos que mudar a ideia de que as mulheres não se interessam por política. Precisamos conscientizar as pessoas para mudar esse quadro”, defendeu o especialista, lembrando que “no Congresso também não existem representantes eleitos para atuar no campo do suporte ao envelhecimento”.
As eleições de 2018 acontecerão em dois turnos - dias 07 e 28 de outubro. Além de presidente e governador, os eleitores escolherão deputado federal e deputado estadual. Devem votar brasileiros com idade de 18 a 69 anos. O voto é facultativo para quem tem 16 e 17 anos e para quem tem mais de 70 anos.


Reforma Política se faz urgente e necessária

Nelson Seiffert defendeu urgência na implantação da Reforma Política, proposta ao Congresso há mais de 15 anos; criticou o regime de “Feudos” que caracteriza os 35 partidos políticos em vigência no País,  “nossos partidos são controlados por poucos Caciques, que são seus proprietários, também reconhecidos como Bercários de Raposas” e apresentou custos do modelo político institucional, "o Congresso custou R$ 10 bilhões em 2018, dos quais R$ 4,4 bilhões no Senado e R$ 6,1 bilhões na Câmara dos Deputados". Também fez duras críticas "à ineficiência do Judiciário: "a Justiça tem 79 milhões de processos sem decisão, há que se propor uma reforma no Judiciário, bem como no legislativo e executivo, um recall de servidores”, enfatizou, enquanto também defendeu a reforma da Constituição Federal de 1988.
“Com a Constituição Federal de 1988 é impraticável governar. É uma enciclopédia de mentiras e fantasias”, disse o palestrante. De acordo com Nelson Seiffert, a Lei Superior, que  em 1988 conferiu ao povo o poder supremo, perde em extensão apenas para a Índia.


A Roda de Conversa promovida pelo SESC Prainha, de Florianópolis e a ANG/SC, dentro do Projeto Idoso em Foco, foi prestigiada por jovens e idosos com atividades no SESC e por alunos e voluntários do Núcleo de Estudos da Terceira Idade-NETI/UFSC. A coordenação esteve a cargo de Arlei Souza Borges, Técnica de Atividade em Trabalhos com Grupos, na Unidade do Sesc Prainha, também coordenadora do Projeto Idoso em Foco 2018, que este ano chega à sua 5ª Edição.


Texto: Vanda Araújo
Fotos: Alexsandra Gallotti, Arlei Souza e Vanda Araújo

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