Mediadora do filme “Sonhos”, de Kurosawa, exibido pelo GEG, falou sobre como nossos sonhos nos tocam. “Para entendê-los, começem com um caderno de sonhos”, sugeriu Lorena Machado e Silva
Psicóloga e professora Lorena,na mediação do Filme, na BU/UFSC |
O filme
“Sonhos”, do cineasta japonês Akira Kurosawa, exibido no último encontro de
Agosto, do GEC/CENETI, e mediado pela psicóloga Lorena Machado e Silva, sensibilizou
o Grupo. Durante o dia em que foi exibido e no dia seguinte, foram muitas as
mensagens de agradecimento à psicóloga, pela forma sábia e criativa com que
abordou o assunto. Lorena falou sobre o
trabalho de Kurosawa, sobre cenários que
se passam em nossos sonhos, passeou pelo universo do nosso inconsciente – segundo
ela, cada um de nós vive dez níveis de consciência - sugeriu livros e deixou, entre
outras sugestões, uma dica que pode nos ajudar a entender nossos sonhos: “começar
anotando tudo num caderno”.
Na
abertura do encontro, a coordenadora técnica do Grupo de Encontros Culturais-GEC, Raquel Maia Liberato, deu
um breve panorama sobre os seis sonhos mostrados no filme. “É um filme
baseado em imagens e fala muito de sentimentos”, antecipou, chamando atenção
para vários aspectos trabalhados pelo cineasta, entre os quais, a tradição e mitologia japonesas.
Convidada
para mediar a sessão, Lorena Machado e Silva, 45 anos de trabalho
nas áreas de Crescimento Humano e Pessoal, foi muito além do filme para mostrar como os nossos sonhos nos tocam,
como através dos nossos sonhos podemos buscar as realizações.
“Os
sonhos possuem códigos, nos mostram qual o caminho, a grande missão, é a alma
nos falando. O tempo todo nossos sonhos estão falando do nosso inconsciente
para o nosso ser. Quando Kurosawa fala de seus sonhos ele é produtor,
roteirista, diretor. Posso ter um sonho de clarividência, de premunição, mas a
maioria dos sonhos falam de mim sobre mim mesma. Por isso é importante ter um
caderno de sonhos. Depois de um determinado tempo, a gente pode ver o que se
manifesta repetidamente. Os sonhos se desenrolam para a gente”, disse a
mediadora.
Lorena
falou sobre os cenários explorados por Kurosawa no filme “Sonhos” e fez interpretações
que levam à reflexão. “Todo sonho tem um desenrolar que pode acontecer naquele
momento ou a longo prazo. É absurdo pensar que a gente precisa compreender o
cenário do sonho”, observou a psicóloga, frisando que “o sonho fala do
propósito da nossa alma”.
Cenários
dos sonhos, como interpretá-los
Explicou
que “num cenário em que predomina a água, por exemplo, são infinitas as possibilidades
de compreensão: água suja, água limpa, água parada. Já o cenário de rios, nos
remete à fluidez da vida; tudo nele se mantém vivo. O rio tem a ver com um
plano maior, que é o plano da existência, com o livre arbítrio. Eu posso nadar,
subir, descer, eu faço escolhas. Dependendo da escolha, surgem as
consequências. O cenário de rios com pedras, por sua vez,nos remete aos sons”.
Mas “por
que isso”, indagou? “Porque vivemos em constante transformação, renascimento.
Vivenciamos isso cada vez que fazemos o movimento respiratório”, disse Lorena, valendo-se
da física quântica (morte/renascimento) para citar outro exemplo.
“Tenho
68 anos. Precisei, de forma literal, viver a criança que existiu em mim, a
mulher jovem, e precisei deixar morrer a mulher jovem para viver a anciã. Os papéis
vão se invertendo, essa é a importância do viver aqui e agora”.
Nessa
linha de raciocinio, a mediadora inseriu a morte, em particular, a morte da
capacidade da integridade física: “à medida em que vamos envelhecendo, vamos
perdendo essa capacidade. Para viver o novo, tem que haver o movimento de
fluidez, o mesmo movimento da água. É uma bela metáfora, a de como cada um de
nós vive a vida: recebendo e doando. Aprendemos muitos conceitos, mas na
maturidade somos obrigados a passar uma bela peneira”, observou.
Leitura do filme
Lorena identifica no filme de Kurosawa “uma terminologia,
uma autobiografia”, uma vez que mostra aspectos do diretor, como “guerreiro”, “pessoa
que sabia lidar com desafios”.São aspectos que na sua avaliação, estruturam a nossa consciência,
nossa personalidade. "No filme, Kurosawa é menino, rapaz, adulto e depois traz a
condição de sábio, de quem aprendeu a lidar com altos e baixos. Mesmo na
condição de ancião, ele traz o aspecto da Raposa (referência ao primeiro sonho
mostrado no filme, que fala da lenda mitológica japonesa sobre a raposa), em
que a gente pode ver as crianças que reverencia, estender a compreensão”.
Também identifica uma “certa coexistência” no filme. ‘Em Sonhos, Kurosawa
fala do sombrio, da morte, da importância da integração com a natureza, da
tempestade, da floração dos pessegueiros. O que se vive no Japão de Kurosawa
tem a ver com a mitologia japonesa, os rituais, a forma de falar. Os japoneses
são empertigados. No casamento da raposa (outra referencia à primeira parte do
filme), quem imagina uma mãe assim? A criança desenvolve um senso de responsabilidade, aprende a cuidar o que vai fazer”.
Cada um de nós vive dez níveis de consciência
A abordagem
em torno da estruturação da consciência mereceu destaque por parte da mediadora.
Segundo a psicóloga, “cada um de nós vive dez níveis de consciência; traz, em si, um inconsciente que pode ser familiar,
simbiótico, coletivo, cósmico ou um inconsciente angélico”.
Explicou
que no caso do inconsciente familiar, costuma-se dizer que temos influências de
até sete (7) gerações. “Uma terapia da moda, que muito contribui para aliviar
sofrimentos anteriores são as constelações familiares”, observou.
Já o
inconsciente simbiótico se manifesta da seguinte forma: determinadas pessoas,
juntas, criam uma vibração que é palpável; Quando juntas, numa só aura, estão
em vibração. “Nessa bola de vibração podem sintonizar frequência, calma, interesse,
concentração”, explicou.
No
que se refere ao “inconsciente coletivo”, citou Carl Jung, contemporâneo de Sigmund
Freud e o próprio Freud. “Freud se fixou na família, pai e mãe: Jung acessava o
sonho dele e a história das pessoas, falava de todas as pessoas”.
Quanto ao inconsciente cósmico observou que cada
um de nos pode acessá-lo, está ao nosso redor: “as pedras nos falam, as árvores
nos falam, a lua nos fala. Experimentem se reportar a uma árvore, ou à
natureza: A vida está cheia de sinais do que está acontecendo, no entanto, nós
estamos passando por eles e ignorando”.
Mas
foi no “inconsciente angélico, que fala de uma esfera que nos transcende”, que Lorena sintetizou a
compreensão do filme “Sonhos”. “Kurosawa se interessava por desenho, pintura,
imagens. Esse inconsciente sinalizou para ele qual o caminho a seguir”, enfatizou.
Entre
uma ideia e outra, a mediadora foi recomendando uma série de autores e livros, que embora
não falassem especificamente sobre sonhos, tinham ligação com os assuntos
por ela abordados: Eis a lista:
-
Sapiens- uma breve história da Humanidade - Yuval Noah Harari – editora LPM
-
Homo Deus, uma breve história do Amanhã - Yuval Noah Harari
- Os
quatro compromissos – Dom Miguel Ruiz - Ed. Best Seller (segundo ela, uma
preciosidade)
- O
Chamado das Árvores, de Doroty McLean – Ed. Irdin
-
Mensagem do Outro Lado do Mundo – Mario Morgan – Ed. Rocco
-
Não apresse o Rio, ele corre sozinho – Barry Stevens- Ed. Summus
O próximo encontro do GEC/CENETI será dia 03 de Setembro, às 9h, no auditório do Centro Sócio-Econômico-CSE.
Raquel Maia, no agradecimento à mediadora |
O
Filme
Abaixo, detalhes do Filme, apresentados pela Coordenadora Técnica do Grupo de Encontros Culturais-GEC, Raquel Liberato, na abertura
do encontro, dia 20 de agosto, no Auditório Elke Hering, da BU/UFSC.
SONHOS
Direção e roteiro: Akira
Kurosawa
Kurosawa nasceu em 1910 e
faleceu em 1998. Seu primeiro filme foi em 1946 O cineasta começou desenhando
na infância, era muito tímido e através dos desenhos conseguia se comunicar.
Pintou vários quadros e era apaixonado por Cézanne e Van Gogh, até que se
apaixonou pelo cinema. Quando fez Sonhos,tinha 80 anos.
Ano: 1990
País: Japão/EUA
Produção: o filme Sonhos foi
feito graças à ajuda de Steven Spielberg e George de Lucas que convenceram os
estúdios a financiá-lo.
Contou com a participação de Martin Scorsese
como Van Gogh, à convite de Akira
O filme é baseado em sonhos
verdadeiros que o cineasta Akira Kurosawa teve em diferentes momentos de sua
vida. Alega ser autobiográfico. Trata de temas como: ecologia, guerra, vida em
sociedade, tecnologia e tradições.
Akira é considerado um dos
melhores diretores de todos os tempos, foi ele que fez com que o cinema japonês
se tornasse conhecido no mundo.
Um filme japonês é bem
diferente de filmes americanos e europeus, porém também sofre influencia do
cinema de todas as partes do mundo, já que o cinema hoje é transnacional, uma vez que absorvemos aspectos e linguagem de outras culturas. O próprio Akira
dizia da necessidade de ser um cidadão do mundo.
O filme é mais baseado em
imagens do que em diálogos. São como contos e alguns exploram as lendas
japonesas. Cada sonho é como se fosse um curta. E sua linguagem cinematográfica
está ligada aos sentimentos humanos.
Filme reúne seis sonhos
1. Um raio de sol através da
chuva – A raposa tem muitos significados para a cultura japonesa: há uma lenda
mitológica japonesa sobre uma raposa mística, que as descrevem como seres
inteligentes e com capacidade mágica, que aumentam com a sua idade e sabedoria.
Fazem parte do folclore japonês. (matrimonio Kitsune)
2. O jardim das pessegueiras - o festival de bonecas, Hinamatsuri,
um ritual de danças, que ocorre na primavera quando as flores dos pessegueiros
estão abertas. Fala da destruição que os seres humanos causam a todos os seres
vivos.
3. A tempestade – uma estranha mulher, da mitologia japonesa,
Yuki-onna (mulher da neve muito bonita ou espírito) faz parte do folclore, e é
muito comum em mangás e na literatura japonesa, ela canta para seduzir os
homens, fazendo-os perderem-se na nevascas, atraindo-os a morrerem congelados.
4. O túnel – não aceitação da morte e a culpa
5. Corvos- a beleza da arte e a percepção que o pintor teve do mundo
6. O vilarejo dos moinhos – o mais poético, fala do ritual daquela
aldeia. E os rituais tem uma forte influencia na subjetividade da pessoa que o
realiza, mesmo sem saber o motivo, o ritual modifica a existência corporal e
espiritual de quem participa.
Texto:Vanda Araújo c/colaboração de Raquel Liberato
Fotos: Vanda Araújo
Parabéns Vanda, lendo a matéria revivi aquele momento, para mim mágico, que a Lorena nos brindou. A beleza do filme somado a beleza das palavras de Lorena transformou uma manhã de segunda feira em luz e conhecimento. Gratidão
ResponderExcluirTambem te cumprimento e agradeço , Vanda, pelos registros. O que fazes, com tanta competencia, é tão relevante pro GEC ! Foi uma alegria imensa estar com um grupo tão interessado e receptivo e mais uma vez constatar a genialidade do Kurosawa. Obrigada pelo convite e confiança Raquel. Estamos juntos!
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