Comunicação Não Violenta: Aula Inaugural do NETI mostrou que conflitos podem ser evitados apenas com palavras. Entre os desafios da Convivência na Atualidade está "o de perceber a necessidade do outro, sair de nossas posições e dar um passo à frente", disse o palestrante
Muitos aplausos e com gostinho de quero mais! Assim terminou
a palestra da Aula Inaugural de segundo semestre do NETI, de tema “Comunicação
Não Violenta e os Desafios da Convivência na Atualidade”, proferida pelo
professor Sidnei da Costa Soares, na quinta-feira (09), no Auditório da Reitoria
da UFSC. Já na abertura do evento, o Pró-Reitor de Extensão, professor Rogério
Cid Bastos, na ocasião representando o Reitor da Universidade, professor Ubaldo
Cesar Balthazar, deu o tema como acertado. “Quero parabenizar o NETI pela
escolha do tema”, sinalizou o Pró-Reitor, dirigindo-se à coordenadora do
Núcleo, Enfermeira Jordelina Schier, com quem
dividiu a mesa de abertura.
Grupo de Canto "Vozes da Ilha" abriu o evento com o Hino Oficial de Florianópolis, Rancho de Amor à Ilha, sob a regência de Nilzon Aguiar |
Coordenadora do NETI, Jordelina Schier e o Pró-Reitor de Extensão, Rogério Cid Bastos, na abertura da Aula Inaugural |
Palestrante foi didático ao conceituar e exemplificar Comunicação Não Violenta
A palestra do professor
Sidnei Soares, Engenheiro Civil pela UFSC, consultor organizacional e
facilitador de Comunicação Não Violenta-CNV, mesclou filosofia, teologia, psicologia,
pedagogia e deixou ensinamentos práticos,
passíveis de aplicação no cotidiano. Ele começou citando Martin Mordechai
Buber, filósofo austríaco, escritor e pedagogo, falecido em 1965, para aderir uma linha de
pensamento que conduziria à importância de saber quem somos e de saber conhecer
as diferenças.
Na citação mostrada em tela, Buber dizia: “Apesar de todas as semelhanças, cada situação de vida
tem, tal como uma criança recém-nascida, um novo rosto, que nunca foi visto
antes e nunca será visto novamente. Ela exige de você uma reação que não pode
ser preparada de antemão. Ela não requer nada do que já passou, ele requer
presença, responsabilidade; ela requer você”.
-Tenho refletido muito sobre a Convivência e a Comunicação. Existem
7,6 bilhões de habitantes no planeta e o curioso é que não existe ninguém igual
ao outro. Os gêmeos univitelinos (idênticos) são iguais do ponto de vista
físico, mas do ponto de vista cognitivo são completamente diferentes”, observou
o palestrante, para explicar que cada um
de nós é um ser singular, único. “Singularidade
é sinônimo de raridade, de preciosidade. A raridade é uma pérola. Sabendo disso, a
melhor contribuição que podemos dar aos que nos cercam é a de ser quem somos.
Assumir a nossa aceitação plena”, enfatizou, para nessa linha de raciocínio, dar
destaque à evolução dos discursos
sociais. “Antigamente, as pessoas se apoiavam na igualdade; mais tarde, o
discurso mudou, passou-se a aceitar as diferenças;
por fim, presenciamos um salto
fantástico, o da valorização das
diferenças”, frisou.
Nesse campo da evolução das ideias e de comportamentos, é
que o palestrante inseriu as inovações tecnológicas. “Em 2017, havia nas mãos
das pessoas 7 bilhões de smartphones. Se a comunicação é fundamental para criar
vínculos, por que os smartphones não estão colaborando para isso? O que está
havendo? Temos recursos preciosos de comunicação on-line e no entanto as
pessoas parecem criar um ruído que não permite que a comunicação flua”, voltou
a indagar, citando o advento das redes sociais,
em particular, as polaridades decorrentes da Política.
Chegada dos convidados: panorama inicial |
Comunicação Não Violenta propõe uma comunicação verdadeira
O termo Comunicação Não Violenta-CNV, objeto da palestra, foi
citado exatamente neste contexto. De acordo com o palestrante, a Comunicação
Não Violenta propõe uma comunicação verdadeira, consigo próprio e com o outro;
parte da teoria de que os conflitos entre as pessoas podem ser evitados com um
simples bem se expressar, apenas com
palavras, num exercício que também envolve respeito mútuo, amor e sobretudo, compreensão. “Uma expressão
corporal pode ser um grande gesto de violência”, exemplificou.
Sidnei Soares citou o psicólogo americano, Marshall Bertram Rosenberg, criador da Comunicação Não
Violenta, falecido em 2015, de quem mostrou, em tela, o seguinte pensamento: “Cada
violência é uma expressão trágica de uma necessidade não atendida”.
- Marshall queria dizer que a CNV tem que ser pacífica,
verdadeira, tem que buscar a conexão com o outro”, observou. De acordo com o palestrante, Marshall Rosenberg
criou um processo de Comunicação, ao qual chamou de “Os quatro passos da
Honestidade” em que figuram a Observação, o Sentimento, a Necessidade e o
Pedido/Estratégia.
“O sentimento é como uma bússola, vai nos levar para a nossa
necessidade; vai nos dizer se as nossas necessidades estão ou não sendo
atendidas e se não estão, o que fazer para obtê-las. Já a necessidade é o ponto
da virada. Quando localizo, quando chego na necessidade, passo a levar em conta,
também, a necessidade do outro. O grande desafio estar em sair de nossas
posições e dar um passo à frente. É o
jogo do ganha-ganha: ganho eu, ganha o outro, ganham os demais”, exemplificou,
observando no entanto, que é preciso saber diferenciar necessidade de estratégia.
Por último, abordou o quarto passo da
Honestidade, a que chamou de “A Arte de Pedir”,
de como se dirigir ao outro, de como se expressar. A partir de frases mostradas em tela, Sidnei destacou como soam diferentes
pedidos feitos a partir de termos como “Por
favor” ou como “Você pode?” de pedidos
formulados a partir de expressões como “Quero que você deixe”, “Quero que você faça”, ou “Quero que você se esforce”.
Para finalizar, citou o poeta Sufi Rumi, jurista e mestre espiritual do século
XIII, com outra frase para reflexão: “Para
além das ideias de certo e errado existe um campo. Eu me encontrarei com você
lá”.
“O poeta nos faz lembrar que é preciso ter cuidado, sair do
julgamento”, alertou o professor, para
se despedir da platéia com uma só palavra: “Gratidão”.
Público lotou o Auditório
A Aula inaugural reuniu
calouros e veteranos, professores do NETI e convidados, e fez parte do Projeto Idoso
em Foco 2018, uma realização do SESC Florianópolis, com apoio da Federação das Associações dos Aposentados e Pensionistas
de Santa Catarina e correalização de 17 entidades, entre as quais o NETI. Entre as presenças teve destaque Ariane
Angioleti, representando a Comissão do Direito do Idoso da OAB e o Conselho
Estadual do Idoso. A coordenação do NETI estima que 180 pessoas prestigiaram o
evento.
Texto: Vanda Araújo
Fotos: Cecília Lima
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