Relato de Danielle Ianzer, ativista parkinsoniana, que busca em Brasília a implementação de Políticas Públicas para pessoas com Parkinson, causou comoção no Encontro de Florianópolis/SC

Dra. Danielle Ianzer

Contar o que se passou no último dia do 4º Encontro Catarinense sobre a Doença de Parkinson, realizado no Hotel Sesc/Cacupé, em Florianópolis, é mexer com as emoções. O relato de vida feito pela paulistana  Dra. Danielle Ianzer, com residência em Goiânia/GO, cientista, palestrante e coordenadora do Projeto Vibrar com Parkinson,  impactou o público. Tomados de emoção, parksonianos e participantes do evento que ouviram atentos a história da palestrante, fizeram uso do microfone para exaltar a alegria de estarem ali, de poder presenciar e viver aquele momento e para agradecer pelo exemplo de vida.

Dra. Danielle e Dra. Angela Alvarez, coordenadora do 4º Encontro Catarinense sobre a Doença de Parkinson

Danielle foi diagnosticada com Parkinson no auge da sua carreira profissional de Química, aos 36 anos. Os sinais da doença surgiram num momento em que iniciava o relacionamento com o seu atual marido, um neurocientista, e quando veio o diagnóstico, tudo na vida dela mudou. “Eu não podia tomar banho sozinha. Isso impactou até na minha dignidade. Rejeitei a medicação e durante dois anos e meio eu só chorava”, relatou a cientista, PhD em Química, que buscou forças em si mesma para hoje, com quase 43 anos, estar à frente de um movimento que busca resgatar direitos por parte das pessoas com Doença de Parkinson no Brasil.


A pedido do Projeto Vibrar com Parkinson, que reúne parkinsonianos e familiares e do qual Danielle é consultora e coordenadora, está sendo formada uma Frente Parlamentar Mista, em Brasília, com .senadores e deputados, com vistas a atender a uma série de demandas dos parkinsonianos.
A primeira reunião para encaminhamento das demandas ocorreu em Abril último, em Brasília, com a participação de Danielle Ianzer. Segundo a palestrante, a Frente Parlamentar Mista já conta com a adesão do senador Paulo Paim (PT/RS), do Deputado Ricardo Izar (PP/SP), da Deputada Soraya Santos (PMDB/RJ), da Deputada Mara Gabrilli (PSDB/SP) e do Deputado Sérgio Reis (PRB/SP).


“Nós estamos abandonados 
pelo Governo. Precisamos desse apoio”, defendeu Danielle, encantando a todos no Encontro de Florianópolis pelo otimismo e coragem com que se lança na vida.
Danielle falou sobre “Impactos da Doença de Parkinson: como lidar com a doença? De paciente para paciente” e foi muito aplaudida. Contou da sua passagem por um processo de luto, decorrente da doença, da importância da Fisioterapia em seu tratamento,  de coisas que gosta de fazer – cantar, quando está em casa, é uma delas – da discriminação por que passam os parkinsonianos (principalmente em ambientes de grande concentração de pessoas) e pilhou os parkinsonianos a curtirem a vida.
Danielle Ianzer, Angela Alvarez e Leny Baessa Nunes,
 presidente da APASC
 O Parkinson avança, é uma doença progressiva e as pessoas tem que saber, tem que ter consciência disso. É uma doença motora, mas afeta muito mais o emocional. O mais importante é o paciente não se esconder. Tem que viver e viver bem. Se for preciso chorar, chorem. Esses enfrentamentos do dia-a dia são importantes. Hoje me sinto orgulhosa do que faço. Apesar de toda a angústia que o parkinsoniano passa, temos que entender que a vida é nossa. Nós não escolhemos isso para a gente. Viver bem, sim, é uma escolha, e isso a gente pode escolher”, sustentou.

Frente Parlamentar Mista tem dura missão pela frente

A iniciativa do Projeto Vibrar com Parkinson espelha o anseio de milhares de pessoas com Parkinson no Brasil. Os próprios especialistas estão sem dados estatísticos sobre o número  de brasileiros que possuem a doença, mas falam em algo superior a 200 mil pessoas. Durante o 4º Encontro Catarinense sobre a Doença de Parkinson, de 03 a 05 de maio, a ausência de Políticas Públicas para essa fatia da população foi duramente criticada, não somente pelos especialistas que palestraram, mas principalmente pelos parkinsonianos e familiares que convivem diariamente com a doença.

Rosarita Franzoni Bousfield, (última da esq. para dir.), na abertura do Evento 

“Logo estaremos ocupando o 6º lugar no mundo em população idosa. Portanto, é de extrema importância a criação de Políticas Públicas que venham de encontro a essa parcela da população”, defendeu a representante do Conselho Estadual do Idoso, Rosarita Franzoni Bousfield, na sessão solene de abertura do Encontro.
O assunto Políticas Públicas também ganhou coro no segundo dia do Evento, na palestra de dois neurologistas e um geriatra. A Dra. Luciane Perez Silveira, neurologista com atuação na Neuro Litoral- Clínica do Cérebro e da Coluna, de Itajaí-SC e no Instituto de Ortopedia e Neurologia-ION, de Balneário Camboriú-SC, reclamou da falta de visão de uma “saúde global mais ativa” por parte dos administradores governantes.


Dr. Rodrigo César Schiocchet, Dra. Luciane e Dr. Fernando Cini,
na abertura do Encontro


“Necessitamos de mais serviços de saúde. Isso é o que tenho de mais carente na minha região. Precisamos de acesso ao multiprofissional, à Fonoaudiologia, Fisioterapia, à Terapia Ocupacional. Terapia Ocupacional é muito importante, ensina as pessoas a fazerem coisas prazerosas, mas esse é um serviço que não existe na rede pública de Saúde”, martelou a especialista.

Seu parceiro de mesa, Dr. Fernando Cini, do Hospital Governador Celso Ramos, da rede pública de Florianópolis, também relatou um quadro de situação difícil enfrentada por parkinsonianos da capital catarinense e do estado. “Santa Catarina está em condições melhores se comparado ao Estado do Pará, mas ainda assim, a situação é muito ruim’, admitiu. “O mais grave é o sistema de marcação de consultas nos postos de Sáude. O sistema é deficitário. Temos casos de pacientes em Santa Catarina que estão há três anos à espera de uma consulta”, denunciou o neurologista. 
Entre as demandas protocoladas junto à Frente Parlamentar Mista, em Brasília, formada por iniciativa do Vibrar com Parkinson, estão resgatar direitos às pessoas que pararam de ter acesso às medicações com desconto; a retomada da cirurgia de DBS pela rede pública de Saúde para pessoas com sintomas exacerbados da doença, em relação ao tremor, que hoje se encontram paradas, a inclusão de novos medicamentos de custo elevado na farmácia de Alto Custo e a aprovação, junto à ANVISA, de medicamento novo para controle da Doença de Parkinson.

Vibrar com Parkinson: projeto é assinado por uma parksoniana  

O Projeto Vibrar com Parkinson foi idealizado em 2013, por Danielle Ianzer, diante de sua percepção acerca da carência de informações entre as pessoas com Parkinson. Em julho do ano seguinte - em 2014 - foi cadastrado como projeto de Extensão na Universidade Federal de Goiás-UFG. É um projeto de abrangência nacional, onde são veiculadas informações gerais sobre a Doença de Parkinson e que pode ser acessado pelo site (www.vibrarcomparkinson.com.br), facebook e instagram.
Entre as propostas do Projeto está a integração de diferentes comunidades e especialistas, com vistas a auxiliar na melhoria do bem estar e da qualidade de vida das pessoas diagnosticadas com Parkinson. Uma vez por ano – sempre em Abril – seus idealizadores realizam o Workshop Projeto Vibrar Parkinson com a participação de especialistas de renome. 

Encontro celebrou 15 anos do GAM e 14 anos da APASC
Enfª. Michelle Hyczy de Siqueira Tosin. palestrante

O 4º Encontro Catarinense sobre a Doença de Parkinson foi realizado pela Associação Parkinson Santa Catarina-APASC, com sede em Florianópolis. Também participaram da organização do evento o Grupo de Ajuda Mútua de Pessoas com Doença de Parkinson-GAM, cujas reuniões acontecem no Núcleo de Estudos da Terceira Idade-NETI/UFSC, professores e acadêmicos da Universidade Federal de Santa Catarina e da Universidade do Estado de Santa Catarina-UDESC. O evento foi comemorativo aos 14 anos da APASC e 15 anos do Grupo de Ajuda Mútua de Pessoas com Doença de Parkinson, completos este ano.














Entre os apoiadores estão a UFSC, o Núcleo de Estudos da Terceira Idade-NETI/PROEX, a UDESC, Centro de Ciências da Saúde e do Esporte-CEFID, Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina-FAPESC, BPARKI, PROGER, Conselho Municipal do Idoso de Florianópolis, Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia-SBGG, Coren, MARTELLI Advogados e Associados, Farma & Farma e OIKEMERA Centro Dia.

Texto :Vanda Araújo
Fotos: Vanda Araújo e Coordenação do Evento

Comentários

  1. Considero de grande valor em termos de conhecimento e sensibilidade ter participado desse encontro. Desconhecia todo o sofrimento dos portadores e seus cuidadores.
    Foi muito esclarecedor e tudo ocorreu num clima de paz e otimismo. Excelentes profissionais. Parabéns a toda comissão organizadora!

    ResponderExcluir
  2. Realmente !! um grande depoimento ! e de grande esperança ! Para os que sofrem do mau de Parkinso..

    ResponderExcluir
  3. Parabéns aos palestrantes e a iniciativa das pessoas que se lançam em um projeto para dar visibilidade a uma doença que atinge tantas pessoas.
    Parabéns Vanda, pela matéria, sempre um verdadeiro sucesso!!!

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Confraternização de Fim de Ano do GEC teve brincadeiras, contação de história e muita alegria e integração

Lançamento de “Predestinação”, autobiografia de Eddy Frantov, dará o tom festivo a Aula Inaugural de hoje, do NETI/UNAPI, às 14h, no CCS/UFSC

Cinco de Maio despediu-se de 2023 com Café Colonial no Quinta da Bica D'Água. Antes, Grupo foi à Gramado