Grupo de Encontros Culturais-GEC/CENETI exibiu “Volver”, de Almodóvar, em sessão Especial de homenagem às Mães. O filme ganhou 22 prêmios internacionais





O Grupo de Encontros Culturais-GEC do  Centro dos Estudantes do NETI-CENETI, realizou sessão Especial de cinema na manhã da última segunda-feira (14), em homenagem ao Dia das Mães. O filme escolhido – “Volver”, de Almodóvar - 22 prêmios conquistados, foi exibido no auditório Elke Hering, da Biblioteca Universitária da UFSC, onde acontecem os encontros quinzenais do Grupo.


A Coordenadora Geral do GEC, Maria Aparecida Ferreira, abriu o encontro com saudações às Mães. O Grupo também fez duplo mimo às homenageadas: no intervalo da sessão, foi servido coffee break especial e entregue uma linda peça da Coleção Além do Mar, da artesã catarinense Eugênia Raquel,  em forma de ramalhete, feito com micro conchas pintadas das praias de Santa Catarina.

Raquel e Graciela, na apresentação do filme
A sessão Especial do GEC teve como mediadora Maria Graciela Baigorria, membro da Equipe Técnica e contou com incursões da Coordenadora Técnica do Grupo, Raquel Maia Liberato. Após a exibição, foi feita uma análise do filme, sucedida de debate. “Volver” é o décimo sexto filme de Almodóvar, tendo conquistado 22 prêmios internacionais.


Programação evidencia um Grupo conectado ao seu tempo

Ao abrir os trabalhos, Graciela Baigorria destacou a preocupação do GEC em oferecer uma programação de qualidade e em sintonia com o que circula em projetos culturais e em salas de projeções, inclusive fora de Florianópolis. 
“Nessa segunda-feira (14), acontece em Fortaleza/CE, a Mostra El Deseo e o filme Volver está entre os que homenageiam as mães. Os outros filmes que serão apresentados – Tudo sobre Minha Mãe e Julieta – também já foram exibidos em nosso Grupo, o que mostra que o GEC está atualizado”, fez questão de destacar Graciela.

Graciela,  na entrega do mimo às Mães

“Volver” projetou Penélope Cruz e está entre os melhores filmes de Almodóvar

“Volver” é o décimo sexto filme de Almodóvar. Conforme a mediador, o filme recebeu 22 prêmios internacionais, entre os quais cinco Goya  - de melhor filme, diretor, música e atrizes - e dois no Festival de Cannes - melhor atriz e melhor roteiro. Também rendeu Destaque para Penélope Cruz, por sua atuação, com a atriz tendo sido indicada para o Oscar. O filme é considerado um dos melhores de Almodóvar, ao lado de Tudo Sobre Minha Mãe,  Fale Com Ela e Julieta.

“Volver” e os seus significados foram analisados
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Graciela explicou o significado de “Volver”, contextualizou o filme, explicou a importância do Vento nesse trabalho do Almodóvar  e falou de uma série de particularidades pertinentes à produção.  De acordo com a mediadora, este é o filme mais pessoal do cineasta.
“Volver”, que em português  significa “Voltar”, representa o retorno em vários sentidos:  às origens do diretor (a história do filme é inspirada em La Mancha cidade natal de Almodóvar, onde  viveu sua infância); retorno ao seu estilo e ao universo feminino; retorno de Carmen Saura, sua atriz preferida da qual se afastara há 16 anos e por último “os retornos” nos filmes: a mãe que retorna, o passado que retorna”, observou Graciela.
Na sua ótica, o filme mostra uma Espanha arcaica, com características peculiares de La Mancha, suas histórias fantásticas, superstições, rituais e mitos. A paisagem árida, os moinhos, as ruas de paralelepípedos, as fachadas simples das casas, “Os Ventos”, a generosidade e solidariedade dos habitantes do povoado também são explorados.
“É um retrato do cotidiano, com humor negro e traços neorrealistas e surrealistas (fantasmas e aparições). No filme, o sobrenatural é tratado com naturalidade. Irene participa do cotidiano naturalmente. Uma tentativa de lidar com a inexorabilidade da morte e da passagem do tempo. O peso do passado sobre o presente. E também a influência das cores fortes, principalmente o vermelho, de Fellini”, observou.
O filme também retrata o mundo de mulheres fortes e decididas, sempre dispostas a ajudar-se nos momentos difíceis e denuncia situações que as mulheres atravessam na sociedade: abusos, traições, incestos, violência sexual. Uma família cheia de segredos, traumas, vinganças e culpas. Mostra o papel da mulher “Almodovariana” nesse contexto, destacou a mediadora.


Filme faz refletir sobre rupturas entre vida e morte

Outro ponto destacado é o de reflexão sobre as continuidades e rupturas entre vida e morte. Os personagens reconhecem a linha do tempo de suas próprias histórias.
‘Do ponto de vista religioso, a morte é abordada com elementos claros do popular, que trazem uma proximidade dos vivos com os mortos, enfatizando crenças supersticiosas e figuras de assombração. A morte ocupa um espaço bastante importante no vilarejo, tendo a tarefa de revolver as memórias de todos os envolvidos, remexendo em suas experiências de vida’, disse Graciela.
A importância do vento nesse filme de Almodóvar também foi analisada. De acordo com a mediadora, “o vento é marcador da passagem do tempo, o elo entre vida e morte, entre passado e presente; serve para demarcar cenas. É como se Almodóvar mostrasse o invisível através do vento”, observou.

Sobre o Diretor

Pedro Almodóvar nasceu em La Mancha, entre 1949/1951 (seu ano de nascimento é incerto) , filho de pais agricultores. Saiu de casa aos 8 anos para estudar em Colégios religiosos e durante esse período, começou a frequentar cinema compulsivamente.  Aos 16 anos, mudou-se para Madri com o objetivo de estudar e fazer filmes. Porém, nunca pode estudar cinema, pois nem ele nem sua família tinham dinheiro para pagar seus estudos.
Almodóvar fez desenho em quadrinhos, foi ator de teatro avant-garde e cantor de uma banda de rock. Participou de movimentos de contra cultura dos anos 70 e foi nesse período que começou a fazer filmes. Sua carreira divide-se em 3 fases: de 1980 a 1987 - fase dos primeiros filmes; de 1988 a 1995 - fase da consagração internacional e de 1997 a 2016 - fase da maturidade artística.
O cineasta faz cinema de arte, influenciado pelo neorrealismo italiano de Vittorio de Sica e Fellini e usa figuras fora do padrão e cores fortes, principalmente o vermelho. Seu estilo, chamado de almodovariano, tornou praticamente um gênero de cinema que influencia novos diretores como o francês François Ozon e outros.

Filme fala de outro tema amargo:abuso de meninas

“Volver” tem direção e roteiro de Pedro Almodóvar. Foi produzido na Espanha, em 2006. De acordo com Graciela, o  roteiro  não deixa arestas para aparar, é eficaz e está entre as histórias mais redondas de Almodóvar. “A direção é genial. É um filme para ser sentido e não explicado”, frisou.
O filme fala de ressentimentos e perdão e  de um tema mais amargo – o abuso de meninas. As dores femininas se repetem como as tradições locais, como tragédias anunciadas.
O fenômeno de Cripta é trabalhado no filme. Cripta é um lugar de segredos, segredos não falados, que são transmitidos psiquicamente através de gerações. Não há cripta que não tenha sido precedida de segredo (quando revela à Paula que Paco não é seu pai; Raimunda é filha do seu pai;  Irene não morreu e matou o marido e a amante. E mantem-se escondida). Este fenômeno de Cripta é trabalhado pela Psicogenealogia e pela terapia de Constelação Familiar, de Bert Hellinger.
No filme, as mulheres se dedicam a limpar as lápides dos túmulos, uma tradição longeva. Por outro lado, a pequena cidade é descrita como aquela em que as mulheres vivem sempre mais que os homens. Sobrevivem ao tempo enquanto seus maridos sucumbem. As figuras femininas parecem maiores que as masculinas, mesmo diante de uma sociedade tradicional e religiosa. Raimunda assume o assassinato do marido sem culpa. Não é inquirida em momento algum por seus atos, nem em confessar o crime.


Passagens relacionadas ao olhar

Ainda de acordo com a análise apresentada, o filme não deixa margem para imaginarmos que a protagonista poderia ter feito outra escolha. As mulheres de “Volver” fazem o que lhes reclama o destino. O filme não pensa eticamente as questões, isso seria perder a sintonia com a proposta de Almodóvar.
“A mãe fantasma que se esconde e de longe observa, e que nos trouxe ao mundo é a mãe arquetípica de todos nós. O fato de Almodóvar ter lhe dado um rosto (Carmen Saura) é mais uma prova de sabedoria do diretor”, disse Graciela.
Algumas passagens do filme estão relacionadas ao olhar:  A tia cega que vê o essencial, porém apaga o que testemunhou (a gravidez de Raimunda); Os olhos herdados de Paula, que revelam os segredos; Raimunda desliga a TV para não ver uma cena de incêndio; Augustina precisa rever e mostrar sua mãe numa fotografia; Paula mata Paco e Raimunda vai saber vendo o corpo na cozinha; Quem vai ao enterro de tia Paula é vesga; Sole vê a mãe e não acredita, esconde-a; Raimunda: minha mãe tinha cegueira por meu pai;Irene vê Raimunda em partes (os pés); Encontro entre Irene e Raimunda: olhos nos olhos.
Finalizando, a mediadora observou no título “Volver” duplo significado especial: voltar à origem e voltar a sentir, que ocorre em dois movimentos: Raimunda reencontra a música e a reaparição de Irene.


GEC promove novo encontro dia 24 de Maio

O próximo encontro do GEC ocorre quarta-feira (24/05), às 10h, no Auditório do NETI, com o filme “O Som dos Sinos”, dentro do Circuito FAM de Cinema. Após o filme, o GEG promove debate com a psicóloga e membro do Grupo, Lorena Machado e Silva, que falará sobre a influência dos sons em nosso corpo.

Texto: Vanda Araújo c/colaboração da Coordenadoria Técnica do GEC
Fotos: Vanda Araújo e José Luiz Soares

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