NETI na Sepex: palestrantes defenderam envolvimento dos setores público e privado com o envelhecimento no Brasil


“A Política Nacional do Idoso (PNI) destaca a necessidade de garantia de assistência à saúde nos mais diversos níveis de atendimento do Sistema Nacional de Saúde-SUS, mas esses cuidados, embora documentados e garantidos por Lei, ainda não chegam a um nível eficiente de qualidade no Brasil.  A própria internação hospitalar é um fator de risco para esse segmento da sociedade. Traz conflitos, gera consequências, e a tecnologia usada é de custo elevado”.
A constatação é da professora Angela Maria Alvarez,  ex-coordenadora do NETI e pesquisadora na área do Envelhecimento, durante palestra realizada nessa quinta-feira, (19), na Sepex, sobre "O cuidado no Envelhecimento Humano", em evento que também integrou a programação do Idoso em Foco 2017.
Angela abordou o envelhecimento populacional, as doenças crônicas que afetam os idosos,  a importância das Instituições de Longa Permanência- ILPIs nesse contexto e foi enfática quanto à percepção dessa importância por parte da sociedade. Segundo a pesquisadora, o percentual de idosos na população subiu de 9% no ano 2000 para 12% em 2010 e 14% em 2016. No ano 2030, o índice de pessoas idosas será de 18% segundo projeções do IBGE.
“Apesar desse crescimento populacional, o percentual de idosos que estão nas ILPIs é muito pequeno. A sociedade ainda não se conscientizou disso. Nem o setor público e nem o setor privado possuem esse tipo de serviço para o idoso. Precisamos de ILPIs públicas e o poder público não se mexe nesse sentido. As instituições filantrópicas é que acabam fazendo esse trabalho, principalmente junto à classe de baixa renda”, observou.

Como alternativa à esse panorama, a palestrante destacou a importância da ação preventiva na indicação de riscos potenciais à saúde, como forma de reduzir complicações e futuras internações por parte dessa faixa etária.
“O cuidado adequado à pessoa idosa promove a saúde e previne complicações. As pessoas em doenças crônicas requerem cuidado distinto, o  que constitui num leque de ações diversificadas e de longa duração. Aprender a cuidar do idoso, hoje, requer uma criatividade bem maior”, frisou a pesquisadora, para quem a adoção da prevenção, a identificação de riscos sociais pode contribuir para a autonomia e independência dos idosos”.


Nesse contexto, Angela Alvarez destacou o trabalho desenvolvido pelo NETI ao longo desses 35 anos e dos profissionais que por lá passam. “O NETI parte do pressuposto de que o idoso é o protagonista do seu viver e tem muito a contribuir para a sociedade. Uma vez despertada a ação gerontológica, o idoso passa a ser um colaborador por excelência  para equacionar questões político-sociais”, enfatizou, lembrando que os idosos tem direitos, mas que também tem deveres. “Há toda uma geração precisando de vocês”, ponderou. Para a pesquisadora, reconhecer o potencial do idoso tornou-se fundamental.

RELAÇÕES DE AFETO SÃO IMPORTANTES NO CUIDADO AO IDOSO

Na mesma tecla bateu Josiane Steil Siewert, enfermeira docente do IFSC e doutoranda em Enfermagem na Universidade Federal de Santa Catarina-UFSC, que abordou a temática do Cuidador de Idosos e as Relações que emergem dessa atividade.  O processo para regulamentação da profissão de Cuidador ainda tramita no Congresso Nacional, mas a atividade é reconhecida na Classificação Brasileira de Ocupação (CBO).
“O que mais se verifica é a condição do Cuidador contratado, principalmente em caso de doenças crônicas”, observou Josiane, traçando um breve perfil desses profissionais. Embora não regulamentada, a profissão  tem  o amparo de direitos trabalhistas. Os profissionais da área tem entre 45 e 50 anos, em média, cumprem jornada de trabalho de 12h, com folgas semanais,  e tem remuneração entre R$ 350 e R$ 1.600.
Josiane Siewert abordou percepção, exigências e condições de trabalho dessa categoria e enumerou algum das dificuldades encontradas: desconhecimento de patologias do idoso, agressividade do idoso (muitas vezes decorrente da própria doença), ausência de familiares ou excesso de interferência no tratamento prestado, desrespeito aos acordos de funções e atividades e excesso de trabalho, gerando o afastamento do idoso da sua própria família.
Também figuram entre as dificuldades apresentadas no exercício da profissão as dores físicas, perda representativa de renda (em caso de melhora dos idosos) e segurança do idoso na residência.
“O que se verifica é que com o tempo, a família que contrata um cuidador vai se afastando, deixando a responsabilidade do cuidado do idoso para o cuidador”, relatou a doutoranda, observando que para cuidar de idosos é necessário ter “amor, compromisso, paciência, responsabilidade e tempo. Conhecer as demandas dos idosos e se antecipar a elas”.
A relações de afeto decorrentes dessa atividade também mereceram atenção da professora do IFSC. “Os conflitos sempre vão existir, mas é preciso estabelecer uma relação de afeto, uma relação com o cuidado. Tem que haver satisfação ao cuidar de idosos”, defendeu.

CUIDADORES ESPERAM POR REGULAMENTAÇÃO AINDA EM 2017

Da esquerda para a direita: Josiane Siewert, Angela Alvarez e Sonia Mara da Silva

Sônia Mara da Silva, 53 anos, cuidadora e presidente da Associação Catarinense de Cuidador Social-ACCS, defende aspectos semelhantes no exercício da atividade.
“Não podemos chegar chegando, tirando as coisas do lugar. Nosso papel é entrar nos lares com delicadeza, trabalhar a alegria, o respeito”, conta Sônia, com a experiência de quem já foi cuidadora inclusive na Europa.
A presidente da ACCS defende a necessidade de capacitação profissional e de valorização do Cuidador no contexto da área da Saúde, a exemplo dos demais profissionais a que essa atividade está relacionada, como geriatras, gerontólogos, terapeutas e nutricionistas.
“É preciso conhecer as principais doenças do idoso, seu diagnóstico. O cuidador atua como um técnico de enfermagem, mas também auxilia as demais áreas”, observou.
Sonia Mara da Silva é uma das fundadoras da ACCS, criada em 19 de julho de 2016. Segundo ela, existem nove (09) associações de cuidadores no Brasil (em Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Brasília, com subdivisões nesses estados), sendo que a ACIMINAS, de Minas Gerais, é a mais antiga, com 12 anos de existência.
“Nossa expectativa é de que nos próximos meses nossa profissão esteja regulamentada. A Lei 1385/2007 está em tramitação no Congresso  e tem como relator o deputado Elmano Férrer (PMDB/Piauí). Estamos esperando por isso”, antecipou.                        

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